30 de julho de 2010

Metamorfose ambulante

A cada expandidinha de pensamento, volto pra rever tudo aquilo que já era pronto, aceito e tomado como sólido. Percebo como algumas coisas mudam bruscamente. Outras permanecem iguais e enquanto umas deixam de ser interessante outras recebem um interesse novo, pronto pra ser explorado.
Por isso é que quando conheço uma música, uma pessoa, uma situação, um filme, um personagem ou um modo de pensar, eu me atenho bem à minha opinião sobre aquilo: só para vê-la, deliciosamente, mudar ao passar da vida.

29 de julho de 2010

Uma opinião

A vida vem cheirando a realidade. Assim, meio cheiro de rua, cheiro de gente, cheiro de riso, cheiro de cor e de televisão. Isso é verdade. É verdade... pra alguém. Me pus a escrever e prometi que dessa vez não mentiria, mas, olhe só, já comecei com meus enganos. A verdade é que a vida não é cheiro nenhum. A vida não é cor e nem palavra nem desenho. Não é assim a vida.
Seria fácil, também, dizer que a vida é gente, jogar-lhe um V maiúsculo no começo e ditar-lhe frases e marcações de cena, tal qual os gregos. Seria fácil, sim. Poderíamos, assim, perguntá-la "qual seu objetivo? de onde vens, Vida? pra quê serves?" e esperar que ela lhe respondesse, assim, em português claro e respostas objetivas. Engano. A vida não é assim.
Ou dizer que a vida, na verdade, não é nada. Não tem sentido nem objetivo. Só aconteceu de existir. Animais se reproduzindo, energia, energia e matéria. Conflitos e conflitos. E som e fúria, significando nada. A vida não é bem assim.
Dentre outras opiniões, só sei do que a vida não é. A vida não é nada disso. E se não é nada disso, não sei o que é. Sabê-la pode servir de alimento pra curiosidade ou talvez de fonte para se descobrir o jeito certo de encará-la. Tantas opiniões defendidas rondam minha cabeça confusa, mas eu vou só assim, procurando-na, descobrindo-na. Em cada pessoa, mais um pedacinho de sabê-la toda. A cada madrugada. Um dia eu vou saber se esse cheiro de rua, de gente, de riso, cheiro de cor e de televisão é vida ou se sou eu que vejo assim. Eu, não, né? Deve ser verdade... pra alguém.

15 de julho de 2010

Saiam dos seus buracos

Não importa o quanto eu repita e repita, a lógica parece o caminho mais difícil a se traçar. Pelo menos é o que eles aparentam. Pegam seus créditos, culpam os sentimentos, a intuição, culpam energias que nem sequer fazem sentido, culpam Deus. Mas deus só culpam se a culpa for positiva. Porque médico nenhum cura a doença que deus te deu, de forma nenhuma. Pelo contrário. É sempre deus quem cura a doença dessa humanidade. Eu preferia não ir por aí, porque sei que te machuca, mas, você sabe, isso tudo o que você chama de luz, eu chamo de manipulação. E eu tento te ajudar. Não é arrogância a minha quando eu grito minhas verdades na sua cara. Já parou pra pensar que você grita as suas também? E ainda mais forte. Você é uma sociedade inteira.
Alienação é coisa de gente que já é fraca da cabeça, você repete todo dia durante o horário nobre. Todo dia. Eu não digo por insistência, não. Eu digo porque eu acredito. Eu acredito que sei algo que você não sabe. Tudo bem, eu sou arrogante - ótimo, tchau - mas talvez em alguns aspectos, só alguns, por alguns momentos, só alguns, eu esteja certa. De repente, as conversas podem não terminar em quem tem mais poder, mas em quem tem mais razão, como o que você sempre diz prezar.
Te usei de exemplo, te expus - me desculpe por isso. Você é só a personificação do que é um mundo inteiro. Talvez porque meu mundo seja aquele que você construiu, mas não é isso que vem ao caso agora. O que vem ao caso é que não adianta você (e por você, quero dizer todos) querer implantar os seus próprios valores no mundo e nem achar que você está certa em todos eles. Em alguns aspectos, só alguns, por alguns momentos, só alguns, você talvez esteja certa. Eu também.
Mas você sabe como é meu orgulho. Eu grito, eu faço barreiras contra as suas opiniões, mas eu paro. Eu paro e penso "Estarão certas?" e eu faço um julgamento sobre cada uma delas, até as que, a princípio, soaram extremamente absurdas. E é nesse julgamento que mora nossa diferença. É no meu parar e pensar que ela mora. Quantas vezes eu já não voltei a você, derrubando todas aquelas muralhas de orgulho, e disse que você estava certa?
Não estou sempre certa. Gostaria de estar, gostaria de ter certeza, mas gostaria mais ainda de poder descobrir cada uma dessas certezas por mim mesma, pelo ato maravilhoso que é o pensar. E não o duplipensar, não o católicopensar, não o demopensar, mas o egopensar. Sozinha. Por descobrir o que eu, indivíduo, penso.
Eu faço milhões de coisas erradas, mas essa, talvez só essa, por agora, talvez só por agora, esteja certa. Não quero que pensem como eu, mas que pensem. Pensem. Por mais arrogante que eu pareça agora.

"People, get out of your holes!" House

PS.: Centésimo post do blog \o/
PS2.: O que começou querendo ser sobre religião, terminou sendo sobre o mundo inteiro. Sou refém dessas palavras.

12 de julho de 2010

Memórias

Tenho algumas memórias de infância. Algumas, já não tenho mais. Algumas delas foram ficando pelo caminho à medida que o futuro se tornava presente e que outras coisas tomavam relevância maior. Algumas andam mais frescas na mente, como a do que eu comi ontem ou a que horas é a consulta no dentista, mas com o tempo vão-se sem aviso, levadas para algum lugar.
Lugar esse que ninguém sabe qual. Que ninguém sabe se é real ou se é imaginário. Talvez um grande armário com centenas de gavetas, o qual vamos alojando e compartimentando cada uma de nossas lembranças, por data. Ou algo mais caótico como uma grande sala com milhões de memórias jogadas ao léu.
Memória não serve de nada. Memória não alimenta, não faz companhia, memória não fala. Mas memória é feita para ser lembrada. Memória ensina, memória mata (mesmo que de forma triste, irreal) a saudade. Memória é conforto. Memória é passado e memória é futuro. Memória é querer estar onde se está, pelo caminho de chegar até lá, e querer seguir em frente, pelo desejo de lembrar. Memória é isso. Lembrar, relembrar. E relembrar é viver.

PS.: Fiz pro colégio esse texto, então, enfim... tá aí :)

8 de julho de 2010

Pseudônimo

Eu vou escrever um poema
de palavrinhas brincantes,
com expressões nunca ouvidas
da minha caixinha de coisas-não-ditas.
Inerte, acabarei dizendo-te tudo.
Nervosamente, gritando
meu estoque de incoerências
que, desconexas, contam verdades.
Vou contar nas entrelinhas
do abismo existente entre
o que eu sou, o que eu acho que sou
e o que eu pretendo ser.
E ainda te incluirei no meu discurso:
Vou dizer tudo o que eu odeio em você
e tudo o que me faz te amar.
E como eu amo! - direi no poema.
Mas aí no finalzinho
quando for hora de assinar
assino, assim, com outro nome
que você nunca tenha ouvido falar;
Ou, ainda, chego no final
e termino com boas risadas,
falo que era tudo mentira
ou culpo um personagem.
E minha negação só vai confirmar
Que esse poema que pretendo fazer
É inteirinho sobre mim
e é inteirinho pra você

Imagem

Não sei se foi só pelo efeito da neblina que nos envolvia e seguia vagarosamente por mar, mas quando te vi naquela noite, vi nosso futuro inteirinho em preto-e-branco indo, assim, na mesma direção da neblina, deitado ali entre as pedras sobre as quais você estava. Seu perfil contra a luz do luar, o cabelo bagunçado. Pude ver ainda o teu sorriso refletir a luz que vinha do céu e batia na água, no teu rosto e, por fim, no meu olhar. Todos brilhavam harmonicamente e nem se sabia mais quem refletia quem. Sabia-se apenas que ali acontecia um encontro com o qual eu nunca nem sequer havia sonhado, pois estávamos eu, tu e nosso destino, como sempre, mas desta vez ele seguia pro mar e, sendo assim, eu não podia ver seu final.

4 de julho de 2010

Aspirações

Eu vou sair mais de casa
Eu vou arranjar um emprego
Eu vou ler os livros
que estão para ser lidos

Eu vou aprender um instrumento
Eu vou arranjar um namorado
Eu vou conhecer mais gente
E deixá-las me conhecer mais

Eu vou rever alguns filmes
Eu vou dedicar uma música a alguém
Eu vou dizer mais euteamos
E dessa vez vão ser verdadeiros

Eu vou olhar pra frente
Eu vou sorrir pra todo mundo
Eu vou comprar roupas novas
E continuar usando as velhas

Eu vou escrever poemas
Eu vou assistir peças
Eu vou rever fotos antigas
E aspirar sua nostalgia

Eu vou ver de outro ponto de vista
Eu vou jogar no lixo meus preconceitos
Vou me deixar apaixonar
E deixar que se apaixonem por mim

Eu vou ser carinhosa
Eu vou dizer o que realmente penso
Eu vou sorrir à toa
E chorar à toa também

Eu vou ser normal
Eu vou ser feliz
Eu vou ser eu
Por mais anormal que seja