20 de abril de 2011

Sobre os amores e as paixões

Aos amores brandos,
que sejam tardes de domingo
azuis ou mesmo cinzas,
tépidas ou mesmo frias,
mas, acima de tudo, calmas.
Que sejam bons e afetuosos,
e satisfatórios como a cama
d'um homem vivo de muitas batalhas.
E que, apesar de - ainda só
com o pesar de um abandono
(que lhes caiba a compreensão
e uma pitada de poesia até) -
vivam.
Apesar de meias e abraços
e meios-abraços
Apesar da falta de mergulho.
Da constante presença de ar.
Apesar de coadjuvantes,
que sejam tão inevitáveis
quanto essenciais.
E, por fim, que se esqueçam dos outros,
sejam eficientes e amigáveis
e tão insubstituíveis quanto prazerosos.
Para que venham as paixões.

Ah, e as paixões hão de ser fogo
As paixões vão rasgar e sangrar
E o abandono te arrancará órgãos
As paixões vão ser lembradas
com todos os seus detalhes
E vão rasgar
E vão sangrar de novo
Mas as paixões serão como flechas de endorfina
perfurando seu corpo.
As paixões saberão ser brandas,
quando necessário
porque serão imperdíveis
e não sabem parar de arder.
E a paixão fará o homem
aquele vivo de de muitas batalhas
se erguer e deixar sua cama
pelo prazer de ver doer o embate.
E que, por causa de - ainda só
com a indignação de um abandono
(que lhes caiba a combustão
e mares de poesia e prosa) -
vivam.

Cadernos

Loto fins de caderno
Com o que almeja ser eterno
palavras que eu quis
para frases que eu fiz

Há no fim uma sujeira
Espalhada de tal maneira
Que torna a podridão
Só uma forma de expressão

Enquanto que no começo
As palavras têm apreço
pela sua moradia
e dispensam poesia

Porque versos só são versos
Se estiverem imersos
Em tão grande liberdade
Que nos dê autoridade

Pra dizer não ao professor
E gritar sim à própria dor
E poetar de coração
No meio da redação

9 de abril de 2011

Trecho de "Sincronia"

[...]

-Você não é uma qualquer.
-Sou quando ando na rua e os outros me cruzam nas calçadas. [...] Quando pego o ônibus cheio ou leio spams. Sou uma qualquer.
-Impossível ser qualquer pra si mesmo! Para você faria toda a diferença estar a rua ou em casa, escolher ir a pé ou excluir seus e-mails sem ler. Para si é impossível não importar uma vez que você é o observador. Ou mesmo para os outros: experimente sorrir para alguém qualquer na rua e verá como a pessoa toma forma ao te adentrar.
-Quem está aí? Quem diz isso?
-Eu digo.
-Fico feliz.
-E você? Quem fala aí?
-Eu me adentro e me invado. Quem fala sou eu e eu sou quem fala.
-Isso é mais do que se você me sorrisse na rua.

6 de abril de 2011

Toque dele

Tua esquerda é de não caber palavras
Mesmo os maiores professores tu destruiria
Se lhes faltasse o tato
Se lhes faltasse o tato

Tu desenhas coisas que eu não ousaria calcular
E pinta fotos com as palavras
Que são tão doces
Que são tão doces

Vejo imagens que tu vês, que tu ditas
E chego a sentir aquilo que deveras sentes
Que mente, mas sente
Que mente, mas sente

Sem sentido, mas você sorri desse jeito
Eu que já perdi a hora e o lugar
Eu só aceito
Eu só aceito

PS.: Para o "Toque Dela" em geral. :)