22 de janeiro de 2011

Nossa experiência

Foram passos pra trás, eu me lembro,
dei para longe do ser que mais temo
para me salvar a existência e a sanidade
um pedaço de carne, um sentimento confuso.

Atuei você, atuei eu mesma
E nessa bagunça de papeis, criei um 'nós'
Você nem sabia, e era a diferença que bastava
entre eu dizer e você dizer.

No fundo, eu não sabia também
E nada daquilo passou de um experimento
Mais comigo do que contigo
e nós já não era válido, nunca fora.

16 de janeiro de 2011

Humano

Novamente com um ódio descabido cuja razão é desconhecida escrevo - e clamo como se em escala notoriamente grande fosse - sobre aqueles que levam consigo minha admiração, por vezes sem sequer saber desse efeito que parte de mim e que, assim como surge, atinge tão somente a mim.
Minha apatia não permite que seja interessante - ah, mas seria! - saber como podem certos olhos não brilharem à visão longínqua de fogos disparados no entre de um ano e outro - por mais amistosos que os dois possam ser. Também esses dois olhos não focam-se na mais dura ou na mais bela das inertes paisagens, se ambas puderem ser previstas e nem a boca que lhes cabe pede por mais amor do que pode ser escrito.
Ainda assim esses olhos mortos, essa boca fosca, essa alma profana vêm e cantam e falam e sentem o que de outro corpo não se veria. Porque esse corpo desvenda gestos. Esse corpo ouve sofrimentos tão longínquos quanto - mas muito mais interessantes do que - aqueles fogos artificiais que sobem barulhando falsos choros. Essa boca beija e morde e fala com almas muito mais profundas do que seriam quaisquer paisagens gigantescas. Essas mãos tocam rostos e acalmam, batem e acariciam. E a mente que se diz apática, na verdade doi-se de paixão e anseia engolir o que vê quando encontra outra como si. Humana. Viva.

14 de janeiro de 2011

Levo

Eu dizia a ela sempre que me desse objetivo, porque viver sem cortar uma folha selvagem sequer dessa gigantesca trilha, viver sem pular nem sequer um muro é como ser obsoleto. Eu dizia, em contraponto, que não há tantos muros assim e que o empecilho deve ser estatisticamente gigantesco para que eu possa sequer alcançar tal nível que eu estimava. Eu brigava com ela pela sua falta de sentido e eu vivia cada dia com um alucinógeno diferente, caindo por semanas em realidades radicalmente diferentes e - no entanto - que me tinham como ponto comum. Eu temi que todas as minhas combinações verbais já tivessem sido escritas, já tivessem sido faladas e pensadas. Eu julguei o dadaísmo pelo simples motivo do acaso tornar isso mais real. Ela me respondeu como enigma que o tédio é como um brejo que afunda, que a burrice é latifúndio e que os valores nos impedem de nós mesmos. Enlaçando as entrelinhas dessas charadas da vida eu descobri que escrevo pra mim, escrevo pro meu mundo, escrevo pra entender, pra exercitar, pra mexer. Não há mais a pretensão de mudança externa e se as palavras não forem minhas que se tornem minhas me servindo.

6 de janeiro de 2011

O primeiro passo

Perderam-se tantas ideias nesse ínfimo espaço de tempo que usei para crescer... Seus textos foram jogados no lixo por você mesmo ao dispensar o passado. As frases que você abandonava, mas que eu guardava como filhas minhas tornaram-se falácia, e você virou nada mais do que um homem inteiro (mas não tão inteiro como eu pensava ser) que fez participações imensas no meu passado. Você é o mesmo: ainda foge quando eu te olho seriamente, ainda finger saber mais do que sabe e ainda sabe mais do que acho que você sabe. Não é o estranho, eu sou.
Aquele nosso futuro não existe mais, nem sequer como passado. Foi-se. Arranjei outro pra ganhar meus sorrisos. Você tem a mesma de sempre pros seus. A vida ccontinua e o que a gente julgava ser de suma importância de repente não mais nos tira suspiros. Só saudade talvez... De tudo, daquele tempo. A maioria dos meus textos não são mais seus. Os primeiros sempre serão. O mundo dá voltas e a vida muda muito.

Cenário

Cenário como se fosse praia.

A Mallu tocando no rádio insiste em me dizer que isso tudo é amor,
mas Sualk não é amor. Não somos eu e você. Nem sequer existe um nós para nós.
Não há nada além dessa minha existência sofrida.
Ela fala comigo, não?

I hate being so far.
Eu acho - e estou a ponto de ter certeza - que você não existe. Melhor crer nisso. De agora em diante, é realidade e só!. Me prometo.
Vou deixar a poesia de lado pra ser um ser humano feliz.

Não, não vou. Não posso me imaginar sorrindo agora.

Nem posso imaginar porque essa tinta insiste em ser duas ao mesmo tempo. Fica tão feia assim. Mas é.

É, dorme logo antes que você morra...

5 de janeiro de 2011

Yoñlu

Assustadoramente belo, seu plano. Você montou tudo perfeitamente, não foi? Querer aquela menina, um churrasco entre amigos, angústia adolescente. Comprou carne que não seria cozida, fez com que tudo parecesse real. Não foi? Se fez parecer normal. Ah, e você não o era! E você deixou tudo preparado, o CD gravado; seu grito de liberdade em cima da mesa como se fosse uma coincidência infeliz você não poder presenciar o feedback da plateia. E foi pra ela que você fez tudo! Sua plateia ficou na sua mão. Sua plateia chorou por você enquanto você sorria. Sua plateia chorou por ela mesma, porque te amava incondicionalmente. Potencialmente, sua oferta ao mundo era gigantesca. Não era mútuo, porém. O que podiam as lousas verdes te ensinarem que não podia o choro-grito melódico de Thom Yorke? Ainda que o mundo fosse mais vasto do que sonhava a sua cabeça bilingue e anormalmente inteligente, você não iria ouvir mais do que saia daqueles fones, não é? E aí você criou um boneco e com palavras-ímã colecionou pessoas-metal. Pessoas que não tinham sua força, sua inteligência. Pessoas que não tinham sua loucura. E foi esse boneco que você viu morrer no retorno da webcam ligada, juntamente com olhos metálicos curiosos que assistiram àquela cena horrorizados e, ainda assim, deliciados. Na porta um último sorriso, o aperto de mão de monóxido de carbono. Não entre! Letal! Você foi frio, porque já estava morto.



"Eu acredito que a cadência e a harmonia certas no momento certo podem despertar qualquer sentimento, inclusive o da felicidade nos momentos mais sombrios." [Yoñlu]