18 de março de 2012

Essa rua

As ruas vazias refletem
Voltam sons e volta a luz
Entrando pelas janelas todas
das pessoas adormecidas
Não acordam.
E por que não acordam?
Estão mortas - espero!
(A dor seria menor)
Se não estão, não sentem
Não sentem e não pensam
e não falam
Para que as janelas se abrem?
Para quem?
Eles só dorme
Só morrem
e desintegram-se
Uma mão alheia e não-qualquer
Os corpos estão estirados
O sangue escorre pelas escadas
E nos vãos das portas
A rua enrubresce
Mas eles vivem, eu sei
Ouço batidas lentas de coração
E gritos excruciantes de dor
São muitos gritos homogeneamente
Dessa rua, dessa cidade
O mundo grita
tão mono-tonicamente
que vira silêncio.

(não sei a data. achei no fim d'um caderno.)

6 de março de 2012

A noite duma terça-feira

Quando o Sol,
ainda que em cinza discrição,
põe-se no céu enquadrado,
eis que as almas descansam a auto-ajuda.

Desistentes, apoiadas, sonâmbulas,
não almejam vida melhor,
mas apoio pras pernas:
só querem mesmo é chegar em casa.

Crianças meladas de doce,
sujo o uniforme bicromático
com os pés enfiados em meias coloridas
puxam seus pais melados de cremes
pelos corredores dum Pão-de-açúcar

Às oito, a cara num exercício de matemática
Oito e meia, a cara na tela.
Nove horas, a cara no travesseiro.

Carros não mais disputam os rios de concreto
Berrando luzes vermelhas e buzinas

Os mais abastados fingem que a noite é boa.
Os mais cansados fingem que a noite é útil
E os jovens gritam da cegueira alheia
fingindo que a noite é pra sempre.

3 de março de 2012

The girl I watch

Well, I enter through the eyes
Behind is anything I can't laugh about
I admit creating a level of understanding
in which she and I only can live

Then I invade her life and thoughts
pretending to be smarter than I am
And she breaks me with manliness
and motherness... and tenderness

Watching it escape from her smile
as she tries to close it, so brave
As she tries to hurt me and distribute hate
I feel those same eyes caressing me