30 de junho de 2012

Mainha,

   Me botaram no avião. Foi isso. Desculpa não te contar antes. A gente estava no meio daquela missão que te falei quando fomos avisados. De qualquer forma, eu não teria muito a dizer sobre nada e o que eu teria é breve e posso escrevê-lo. Sua falta, já sinto há meses de qualquer forma...
   Não gastarei o pouco tempo e tinta que tenho (agora, exatamente 12 minutos pra arrumar minhas coisas) pra dizer os meus achares sobre isso como um todo: está em toda parte, mãe. A guerra grande é incontrolável. Quanto à minha missão, é relativamente pacífica: eles nos disseram que o que temos de destruir são coisas e só. Olha que bênção! A menos que pessoas se ponham na frente das casas, não é minha obrigação tocar um dedo sequer nelas. Não sabemos direito como será a reação dos outros ainda. Não é bom como estar de volta, mas isso já nem há mais.
   Se tenho medo? Bastante. Tudo é incerto por aqui: os avisos não trazem avisos prévios, tem hora pra acordar e dormir e tem sempre o que fazer. Mesmo a mão tem sempre o que fazer: se não é pra trás, é pra frente ou na testa. E os pés estão sempre de acordo com elas: semi-abertos ou juntinhos. Tudo bem, estou reclamando porque não quero ir. É só isso. Tenho medo, mas passa.
    Bom, estou a salvo, comendo bem, com saudade da minha boa caminha e da sua comida. Mande meus cumprimentos ao pai. Tenho que sair correndo, pois já me chamam, mas separei um trecho de uma canção daqui: "Por mais terras que eu percorra, não permita Deus que eu morra sem que volte para lá" e ele não há de permitir. 

Te amo,
Guto.

29 de junho de 2012

Pétalas

Das mãos que acarinham a flor
as afiadas unhas que ferem a pétala
Com trejeito de loba que aninha,
arranca-a do solo para, então, cuidar

Seiva escorre do caule vivo,
O espinho fere também a mão que mata
Nos dedos, o sangue rosa faz (tanto faz)
tudo o que é natural ser um só.

Obscena obesidade vegetal
destroçada nos fortes dentes de trás
A vida devolvida pelo mordaz
carinho dos dentes da frente.

Porque tentam vorazmente ser um
mútua sombra uma faz à outra
Põem-se mãe que leva no braço forte
Na boca da outra, põem-se mulher

25 de junho de 2012

Throw up

It feels like throwing up
No no, it's worse:
it's the moment right before throwing up.
I've got a spinning-round head
Oh, yeah, it's quite late
and I'm not sure why I'm writing this
but my head is a mess
(why didn't I write this in portuguese?
then I wouldn't have to say 'right now')
My head is a mess (right now)
'cause it is (permanently) so damn organized.
I see it now (well, it's so clear):
lying sounds ok when it could be true
acting sounds ok if you have the right
pretending sounds ok when you could be feeling
Then if you don't, there's nothing you can do except
throw up it all.
When you hate the one thing you can't get rid of.
or 'cause you've seen to many homemade videos
and the handmovements have made you sick.
When it's late at night and you are lonely
again
and you write a fucking awful poem
which could be worse if not in some mask-language.
There's a smell you don't even like
It's so fucking sweet and fake.
Throw. up.
You just had a lot of food and chocolate cake.
Throw. up.
What are you doing with your life?
Sleep.
Just forever would be nice.
Give. up.

1 de junho de 2012

A sério

    Eu queria mesmo era ser pessoa a quem se dá poucos créditos. Que quando eu falasse em palavras, as pessoas colocassem em dúvida a verdade, a minha sanidade e a minha capacidade de transformar fatos em verbos. Fui criada - ou nasci, quem sabe de onde vêm essas coisas? - de tal forma a só pronunciar o que não me pertencesse, as teorias consolidadas e as certezas irrevogáveis, enquanto todo discurso subjetivo deveria conter um "eu acho que" ou pior e mais doloroso "talvez" de dispensar responsabilidades. Ah, mas que delícia seria ouvir sussurrados os pensamentos dos outros (não dos outros mesmo, não se enganem, mas dos outros cá de dentro e do que são enquanto coisinhas personagenzinhos da minha cabeça e de tal forma) ouvir esses sussurros dizendo Coitadinha, ficou louca, ou tendo muita mas muita raiva (tem que ser raiva de não segurar o punho que vai em direção ao quebrável e evidente nariz que tenho) e de, nessa raiva, dizer mil coisas que eles nem sequer pensam. 
    E, ainda (que delícia é escrever quando se escreve utopias), mas ainda eu ver-me perdendo o controle, a cabeça e esquecendo meu nome e, ao procurar no bolso o documento, estar nua e perdida e mais humana do que jamais. Ou então em aflição (não me permiti o que hei de cogitar antes por pudor, mas mais pela modéstia em dizer que mereço tanto e talvez um pouquinho pela vaidade de escritor que não quer escrever coisas repetitivas:), em aflição e sem dor, exceto aquelas intríssecas ao ato, amar. Amar muito mesmo. Um amor que nem acredito que haja e tudo bem porque, cá, quero ser desacreditada e, como já disse, quero que, de reação a esse texto e a outros e quando quiserem (lembrar de parar de obrigar os outros ao meu tempo), desprezem-me, dizendo que Muito bem, eu tentei, mas só há aí mentiras. 
    Dispenso cá a verdade em prol de que, pelo amor de deus só hoje, eu tenha paz.
    Amém.