1 de dezembro de 2012

Senhor, piedade!

Ao levantar os olhos à santa imagem
em clamor mudo e desesperado
não se apiede dos vivos,
vagando por aí mesquinhos
chorando suas mazelas pulsantes
suas sanguinolentas batalhas,
deglutindo partes do próprio corpo
mastigando e mastigando
triturando os outros e a si mesmo;
dos vivos que podem sorrir
e, avarentos, não o fazem
ou dos que escolhem morrer
e, avarentos, o fazem
:
se apiede dos mortos,
esquecidos, inventados
e sem direito à ação.

Orbitando

Fui à órbita alta
onde não chega o astronauta
e das vistas sobrenaturais
distribui o que eu achei
que todo mundo deveria ter.

Eu não te quero.

Dos amores, o menos egoísta
mero empréstimo de corpo
que até goza dar-se ao
pretensioso e distante amor
de quem não quero saber de mim.

Mim.
(quem sou aqui tão longe?)
Eu não te quero pra mim.

Eu te quero
feliz