Liberdade quase plena. A válvula de escape, o sempre, o tudo, a base. Abraços desprogramados, a volta, a casa. A casa. Caminhar por ela num banho de afeto cujo vapor perdura. A lembrança. E toda vez que o pulmão e as pernas já velhos e fatigados, já certos e mastigados e devorados, perderem para a estrada, larga-se; cai; embaixo colos, choros, broncas. Opor-se àquela sociedade tão pneumática e limpa e devoradora. A sujeira, a paixão, o sangue e o medo. A casa.
E quando descansados e obesos, quando curiosos e instigados, andar. E ao andar, deixar a deglutição cujo alimento foi você. Devorado. Mas não, agora só andar. Andar, ver, tocar, saber, conhecer. As pedras, as paredes, as plantas e as vidas. O vento passar assobiando entre os vãos de seu corpo e junto dele levar o vapor, o cheiro e o pó. E tropeçar também. E ferir-se e correr. Mundo vasto mundo, deixe-se descobrir. Prostitua seus recursos brutalmente. E ferir.
Por fim, a fuga. Não a fuga do mundo, que seria absolutamente vã depois de ferido e sábio. Não a fuga de casa, que seria absolutamente estúpida depois de amado e alimentado. Por fim, a fuga de si. Momento de tirar aqueles restos grudados cuja proveniência nem se sabe. O vento deixou. O banho deixou. E você arranca vorazmente com as mãos, jogando longe. Pensar, gritar. Ler e ouvir e pensar. E ver! O mais bonito, o mais bruto e o mais pessoal dos lugares.
Em suma, três situações fundamentais. A formação diária do ser. Em suma, três razões pra não deixar que ninguém entre em mim. São três modos de compartimentar a vida. Três motivos. Somente três medos. As três coisas mais racionais que se tem. E são os três maiores obstáculos.