Tomei um banho e o apartamento debochou carinhosamente do nosso grito de liberdade: se fazia necessário. A atmosfera toda guardava, por trás da nostalgia óbvia, um tom de absurdo como se tudo fosse um sonho esquisito. Ironicamente, a sala chamou não pelos móveis, mas pela TV em cima de um caixote cheio de comidas, que se assistia de um colchão, porque acho que as coisas tendem a se parecer com seu princípio quando estão para acabar.
E entendo: o que me faltou na época foi saber que era assim, feliz, porque parecia o começo e, no entanto, triste pelas diferenças. Com um companheiro a menos (e um a mais), rumei para o começo do novo ciclo. Já tendo quarto e cama, deitei do dia de trabalho e adaptação. Mais cedo, pude jurar que viveria de nescafé e com uma roupa incomum que tirei do armário-mala coincidentemente. Me enganei. De qualquer forma, agora já usava pijama e, deitada, olhando pra cima, respirei o ar quente do final de um verão. A janela aberta, ouvi cigarras e uma mariposa enorme pousou calmamente na parede. Entendi, então; por compensação da automaticidade, ganhei uma casa viva.