Voltam sons e volta a luz
Entrando pelas janelas todas
das pessoas adormecidas
Não acordam.
E por que não acordam?
Estão mortas - espero!
(A dor seria menor)
Se não estão, não sentem
Não sentem e não pensam
e não falam
Para que as janelas se abrem?
Para quem?
Eles só dorme
Só morrem
e desintegram-se
Uma mão alheia e não-qualquer
Os corpos estão estirados
O sangue escorre pelas escadas
E nos vãos das portas
A rua enrubresce
Mas eles vivem, eu sei
Ouço batidas lentas de coração
E gritos excruciantes de dor
São muitos gritos homogeneamente
Dessa rua, dessa cidade
O mundo grita
tão mono-tonicamente
que vira silêncio.
(não sei a data. achei no fim d'um caderno.)