Eu queria mesmo era ser pessoa a quem se dá poucos créditos. Que quando eu falasse em palavras, as pessoas colocassem em dúvida a verdade, a minha sanidade e a minha capacidade de transformar fatos em verbos. Fui criada - ou nasci, quem sabe de onde vêm essas coisas? - de tal forma a só pronunciar o que não me pertencesse, as teorias consolidadas e as certezas irrevogáveis, enquanto todo discurso subjetivo deveria conter um "eu acho que" ou pior e mais doloroso "talvez" de dispensar responsabilidades. Ah, mas que delícia seria ouvir sussurrados os pensamentos dos outros (não dos outros mesmo, não se enganem, mas dos outros cá de dentro e do que são enquanto coisinhas personagenzinhos da minha cabeça e de tal forma) ouvir esses sussurros dizendo Coitadinha, ficou louca, ou tendo muita mas muita raiva (tem que ser raiva de não segurar o punho que vai em direção ao quebrável e evidente nariz que tenho) e de, nessa raiva, dizer mil coisas que eles nem sequer pensam.
E, ainda (que delícia é escrever quando se escreve utopias), mas ainda eu ver-me perdendo o controle, a cabeça e esquecendo meu nome e, ao procurar no bolso o documento, estar nua e perdida e mais humana do que jamais. Ou então em aflição (não me permiti o que hei de cogitar antes por pudor, mas mais pela modéstia em dizer que mereço tanto e talvez um pouquinho pela vaidade de escritor que não quer escrever coisas repetitivas:), em aflição e sem dor, exceto aquelas intríssecas ao ato, amar. Amar muito mesmo. Um amor que nem acredito que haja e tudo bem porque, cá, quero ser desacreditada e, como já disse, quero que, de reação a esse texto e a outros e quando quiserem (lembrar de parar de obrigar os outros ao meu tempo), desprezem-me, dizendo que Muito bem, eu tentei, mas só há aí mentiras.
Dispenso cá a verdade em prol de que, pelo amor de deus só hoje, eu tenha paz.Amém.
Amém.
ResponderExcluir"de tal forma a só pronunciar o que não me pertencesse, as teorias consolidadas e as certezas irrevogáveis"
ResponderExcluir"Odeio citações. Diga-me o que sabes" - citação conhecida de não me lembro quem.
Muito bom o texto, Mari. Parabens.
Amém!
ResponderExcluirMe vi nesse texto, Mari! :)
Beijos!