Olha à sua volta e nota que o quarto está ainda mais cheio. A vista está borrada, mas pode ver quem são. Sorri quase estaticamente e ainda ouve um "Boa noite, filha." seguido de um beijo na testa. Mas de alguma forma ela sabe que não vai dormir. Ela sabe qual é o destino que lhe vem a seguir. Mas uma dúvida paira na cabecinha sagaz. "Pra onde vou?". Num desespero incomum, pergunta "Pai, pai! Pra onde vou?" Ele pede pra não se preocupar, mas isso parece não deter o entusiasmo da menina. O pai soluça. A mãe soluça também. E a chuva que escorre na janela parece chorar junto com eles. O corpinho outrora entusiasmado deita a cabeça no travesseiro e descansa todos os músculos. Sorri.
O corpo totalmente dopado de morfina, não doi. O que doi é um aperto fundo. Montanha-russa! Ela nunca andou de montanha-russa. É a montanha-russa que aperta. Junto com nunca-ter-beijado-na-boca e não ter tempo de presenciar o aniversário de sua melhor amiga. Todos apertam fundo em algum lugar do peito.
Continua sorrindo, apesar da aflição. Sente, então, todos os seus pensamentos voarem e sobrar só aquele sorriso. Todos os seus segredos morrem com ela. E, de repente, da menina inteligente, que odiava geografia e tomate, nunca tinha andado de montanha-russa e nem beijado na boca...Daquela menina única e cheia de detalhes pessoais, sobra só a lembrança.
Que lindo! Lendo esse poema me lembrei de uma história que li recentemente, na Veja, de uma mãe que respeitou o desejo da filhinha de morrer em paz após não conseguir lutar contra a doença dela.
ResponderExcluiressas histórias acontecem...
ResponderExcluire se a gente pensa o quanto de vida foi desperdiçado fica mais triste ainda.