30 de maio de 2014

frio

ao sair no sereno
nesse frio, nesse inverno
se empacote, sai seguro:
cachecol chicote
sobretudo escudo
pra domar o tempo
e o vento dançarino.

quando eu tô saindo:
-se agasalha, menino!

e açaí é suicídio

28 de maio de 2014

Lama

As coisas permanecem boiando
Na grossa camada de lama e caos
e caos e lama
Nunca em panos limpos:
A própria água brota da bruta camada

O que se mexe regurgita
Treme, agoniza, tenta um brilho suave
e regurgita
Viver é se dobrar.

14 de abril de 2014

As coisas

Me deparo com todas as coisas:
a lista infinda das existências.
Me deparo com todas as coisas
e quereria antes que o acaso,
a fome, a distância e o medo
me impedissem.
Quereria eu não poder tanto.

Nessa infinitude de poderes meus,
sou todas as coisas
nos mais diferentes planos
e por sê-las todas, as sou muito pouco.

Jamais procurei as coisas boas,
quis antes adjetivar com minhas sensações
as coisas, tocar as coisas

Mas nesse tudo-ser,
toquei a concretude das coisas
com a fluidez própria desta coisa que sou.
Sou algo mais do que essas coisas,
sou o toque que existo
quando na superfíce delas.

A ficção que existe em mim

A ficção que existe em mim
em diálogos internos se interpelando
surgem, repetem, sem fim
cá dentro, seguem como mando.

Contemplo tua face-realidade,
matéria-prima do meu eterno pensar
e jogo fora pra viver mais tarde,
por ser findo, o que posso tocar.

É um lugar que visito todo dia
e imaginá-lo me faz menos rasa.
Cercando-me do que eu própria conceberia,
volto a ela como quem volta pra casa.

Se acredito na fantasia? Não creio.
No plano dos olhos, com prova, não está
Se aceito sua existência e devaneio
é porque só viver é se matar.

o beijo

Não posso viver longe das carnes da sua boca
e tudo o que a boca fala é um eco longe da boca
e tudo o que eu, louca, quero é o tanto que não se apouca
e quando essa boca beija, o beijo é parte da boca
(a tentação da boca é o beijo e a sílaba solta).
Da boca escapa na lata: ela clama por outra boca
e sempre que a boca cala é a outra que cala a boca
e as roupas no chão da sala
e as coisas que não se fala
e a carne do corpo, a cara
desembocando na boca, a alma
e aquilo que a boca toca
é tara, é tudo, é dá-la.