30 de julho de 2012

Writer

"I tell people I'm a writer
But what I mean to say is
I want to do big things
but all I have are these stupid words."

PS.: Não é meu. Achei na internet, sem assinatura.

29 de julho de 2012

Causadores

   Em ambientes frequentados por jovens, tais como escolas, clubes e ruas, não é raro encontrar demonstrações de violência física e moral de uns para com outros. As vítimas são crianças e adolescentes pouco aceitos em seu meio, com características diferentes da maioria e, portanto, inseguros. A especialista Rosalind Wiseman, em entrevista à Veja, falou sobre essa prática conhecida como Bullying e sobre a responsabilidade que têm a escola, os pais e os participantes.
   Mesmo Rosalind, especialista no assunto e combatente do bullying, admite que naturalmente há, no ser humano, o impulso de se sobrepor ao outro, criando uma hierarquia a partir da diminuição do seu, por assim dizer, oponente. A escolha deste é fácil: num ambiente competitivo e hostil, a vítima acaba sendo o jovem mais acatado, menos ofensivo e, por vezes, mais inseguro. Falta aos especialistas notar, também nos agressores, a insegurança necessária para se acreditar que a aceitação de alguém num grupo é proporcional à sua agressividade.
   Fato é que o mundo adolescente é, em geral, carente de segurança; não porque haja algo errado e inesperado acontecendo com a geração presente, mas porque essa idade é caracterizada pelo abandono dos valores dos pais e pela lapidação dos próprios valores. Jogados nessa incerteza, os jovens apelam para o maniqueísmo, determinando 'certos' e negando com veemência tudo aquilo que é 'errado'. Se não feito com violência, esse processo pode ser realmente saudável, embora dificilmente venha a ser calmo.
   As justificativas puramente hormonais e biológicas param por aí: o bullying tem piorado e acarretado consequências mais sérias nos últimos tempos. Como dito por Rosalind, as escolas, principais lugares onde o bullying acontece, não se envolvem até que alguém saia machucado, ignorando o fato de que as piores agressões acontecem em silêncio, sem que ninguém possa ver fisicamente e mantêm-se por bem mais tempo do que uma cicatrização demora. As escolas não admitem seu papel de ambiente social dos jovens e, portanto, de formadores sociais e, enquanto deveriam propor ideias de colaboração e respeito, se abstêm ou pior: incitam a competitividade desenfrada.
   Os pais dessa geração, mais liberais e companheiros de seus filhos, munem-se dos seus próprios preconceitos e intolerâncias e depositam-nos nos filhos que, quando em meio jovem, livres do contrato social adulto e em criação de seus próprios, expressam-nos da forma que encontram. Os pais que deveriam oferecer diálogo e experiência e, em troca, estarem abertos à chegada de novas ideias, repassam a velha noção de que vence quem derrota o outro.
   Não vale a pena apontar culpados: passaríamos da criança que não tem discernimento, do pai intolerante, da escola que se abstem para atingir graus mais altos de uma sociedade, percebendo que a maioria dos conceitos que regem as pessoas hoje em dia baseiam-se na polarização de um vencedor e de um perdedor, ou seja, na competição; em saber quem tem a razão, quem está mais certo, mais errado ou bate mais forte. A violência nunca será extinta, mas nos cabe perceber quando ela é gratuita e letal para os dois lados do embate.
    Quando se trata do bullying e de uma ambiente tão intenso e livre, deve-se exercitar a tolerância de forma que não finjamos que a violência não existe ou é inútil, mas para que notemos que as diferenças inofensivas entre as pessoas não devem ser tratadas dessa forma. É preciso haver diálogo tanto com o causador como com a vítima, para que sejam esclarecidos, conheçam suas razões de agir e, enfim, sintam-se razoavelmente  confortáveis num mundo que vai lhes cobrar tranquilidade e tolerância para um funcionamento pacífico.

PS.: Redação que eu fiz, nesse semestre passado, para a aula de história.

23 de julho de 2012

Outra vida

Paisagens intermináveis.
Músicas não-catalogadas
Beijos fora de hora e lugar
Alegre encontro casual

E um suspiro, um respiro, um retiro...

Só que eu só sei fazer versinhos.

20 de julho de 2012

Doze pessoas

doze pessoas que agrupei assim
1 família de pai, mãe, filho, filha
1 dupla de amigos vestidos de morcego
2 casais apaixonados
1 casal não tão apaixonado

doze pessoas que viram trailer e tinham ingressos
saíram de suas grandes casas em denver
Só a dupla de amigos se importava mesmo:
os casais beijavam e riram com os barulhos
a família tinha um jantar com os avós mais tarde.

Não era um momento especial (antes fosse!)
com todas as cerimônias que a morte deve oferecer
mas nunca oferece.
Porque a morte é um momento especial.
A morte é o clímax da vida.

Mais de doze pipocas jogadas no chão
cocas-colas, corpos frios no abafado da sala
conhecida por ser a melhor sala de Colorado
a imagem em alta definição (que não parou)
o som perfeito fazia os tiros quase reais (e disparou)

doze pessoas
não viram o final do filme.

19 de julho de 2012

Ai, eu dava tudo

Ai, eu dava tudo pra ter só pra mim
Um dos finais reticentes,
assombrosos e maravilhosos
dos seus bons tempos de escrever.

Ai, eu dava tudo pra ser o meu sorriso
que te fazia perder uns versos e tempos,
que fazia valer a pena a dor e o resto 
pra fazer sorriso brotar em você também.

Ai, eu dava tudo pelo seus gritos que
querem alardear, embora com razão.
Dava tudo pra ser a tal de quem,
em segredo, você quer atenção.

Ai, eu dava tudo pra que um dia
fossem gêmeas nossas consciências
falassem numa mesma língua e ritmo
mas com opiniões divergentes.

Ai, eu dava tudo pra você voltar a ser
ou pr'eu voltar no tempo e ir aí
Feito seu eu-lírico faz,
eu dava tudo pra você existir.

Ai, eu dava tudo se, em troca,
ganhasse um beijo e a promessa
de que na sua grandiosa eternidade
você pensaria em mim só um minuto.

("Ai, eu dava tudo, o meu violão
eu dava tudo pra visitar teu coração" mm)


17 de julho de 2012

Em segredo

   A noite chega e, prensando os pensamentos contra as horas que lhe restam pra dormir, surge ainda pequenina a ideia óbvia, lhe coçando. Ele corre afobado por entre suas velhas sinapses, tropeçando em conclusões já formadas e perguntas que deixou pra responder mais tarde e pulando imune à dor de sempre. Encontra, enfim, uma caixinha e por tocá-la, num grito estridente, se lembra da sua condição de corpo, de cama, de olhos abertos e só mais 5 horas para dormir. 
   A aventura já era o bastante para lhe envolver num sono pra só ser interrompido pelo alarme, de manhã, mas a tal da caixa perdera seu caráter de mero objeto representativo onírico para vestir-se de desafio intelectual. Consciente. Lá se foi mais uma vez nosso herói sonhante, de olhos fechados, se emaranhando e misturando em ideias que agora lhe pediam a atenção. Pôs os olhos nos noventa graus e chegou à caixa sem nenhum caminho, como fosse imaginação. Os berros da pergunta que se fazia dentro da caixa eram abafados e o alcançavam numa forma somente medonha, atravessando as paredes da caixa que pulsavam vermelhas revestidas de nervo inflamado. Todo toque era perigoso. Estendeu a mão em direção a ela e encostou um dedo somente, muito devagar. Não houve reação. Ao mínimo relaxar da mão tranquila sobre a caixa tensa, os poucos gramas a mais que ali se dispuseram causaram um grito rápido, rangido, agudo, que rasgou o moço até que o reflexo do braço se afastando o acalmasse e o som apitasse cada vez mais baixo, respirando um chiadinho ralo.
   Estranhou manter-se naquele lugar escuro e simbólico, que agora parecia tão palpável. Num só golpe, abriu a tampa da caixa. A dor o jogou longe, a aflição enviou sua língua rapidamente aos dentes da frente, procurando uma textura agradável que lhe tirasse a recente memória de mais um grito cortante. Ergueu-se da caixa um rastro luminoso que tocou o fundo do ambiente então preto e o tingiu, como tinta na água, de um cenário calmo. Em pouco tempo, configurou-se uma sossegada pracinha numa manhã quente. Nosso rapaz, antes jogado em infinito e indefinível chão preto, agora via-se na refrescante e verdinha grama. Estava em má posição: via copas de árvores tão verdes e carregadas de frutas e o céu azul. Ouvia, porém, uma sinfonia de calmarias e felicidades: crianças que corriam e gritavam, lá longe e um barulho sutil e claramente presente, de água em correnteza. Ficou lá não sei quanto tempo. Não havia tempo. Sentiu, então, que alguém lhe pegava nos braços, mas mais que seu pequeno corpo, todo aquele universo agradável, com cheiros doces e boas esperanças, recebia os baques dos passos daquele que o havia pegado. No ritmo dessas passadas, criou-se um embalo carinhoso, abrangente e gostoso... Ali, sem se perguntar como a noite virara dia e sem nem se perguntar nada, dormiu.
   Acordou antes do alarme e, de repente, sentiu pudor. Passou as mãos pelos lençois que esfriavam tão rapidamente depois de deixarem sua pele. Olhando pra luz acesa (havia a esquecido assim na noite passada?) lembrou-se dum alegre lustre em forma de Sol que seu pai lhe dera quando criança. Viu o teto, a parede e parou no vértice que junta três faces do cubo. Fechou os olhos e, calculando a distância deste para a mancha de luz nas pálpebras escuras, tocou com o dedo o canto, que de tão frágil e fundamental, parou de existir, fazendo-se em fendas que dividiam os pedaços de concreto. Aos poucos, eles se afastavam. Quando abriu os olhos, o quarto ainda estava lá.

14 de julho de 2012

Velhas palavras

Os cantos já amarelavam,
a datilografia à tinta vermelha-preta não
(que mentira, foi logo agora,
pouco tempo pr'essa falta de noção)

Danem-se os muitos assuntos,
eu quero o escritor
dos grandiosos versos e sentimentos
dos tormentos, mas do amor

Irregulares estrofes febris
brasis, sobre estes Brasis
bravas incrédulas putas
intuitivas estrofes senis

(Revelo o segredo da poesia:)
desfechos épico-adocicados
finais felizes mesmo, mas
porque apesar. Apesar do passado.

Quem diria que escreveria?
Quem diria que eu leria?
E lembraria agora, quem diria?
Ninguém dizia: era melhor escrever.

Lidos de acordo com o tempo, se vê
que as palavras vão sendo cortadas:
têm medo de querer dizer.
têm medo, mas medo de quê?

Te silenciou quem não te ouviu.
Quem foi? A Rita, a vida ou o coração
que, além de tudo, te deixou mudo
um violão?

9 de julho de 2012

Velhos palhaços

Não se fazem mais malandros arlequins bem-esculpidos
Permanecem os rijos maxilares em rostos reais
Brutos, truncos, fortes, mas de mãos suaves
que beijam sem violência os lábios mortais

Nos bailes agora se dança como se pode
Cansativa coreografia do cotidiano
As moças não choram nos cantos
estão de pé: são eles que choram.

Ouve-se uma triste melodia conformada
soando entre os cem tipos de motor
No centro desse cenário, o colorido
Arlequim (escondido) cambaleia galanteador

Que beijo profundo tem Arlequim
que às damas é tomado furtivamente.
nem mesmo se sabe quando se o beija:
o prazer é mais intenso que a mente.

Um segundo que se perde define
encontrar-se ou não nos braços dele
E ah, que braços são esses braços...
E ah, que beijos são esses beijos...

Pierrot, neste conto moderno
salva as moças da desesperança
promete-lhes ser amável e terno
num mundo que lhes dá tanta surra

Arlequim chora, sozinho e invisível
seus beijos são vazios sem boa boca
Beijos que eu, louca, até poderia...
(Ah, que beijos são esses beijos...que beijos?)

Mas Pierrot agora nada em alegrias
com a humildade dos apaixonados, pois
A poesia concreta de todos os dias
não permite mais que o amor seja os dois

Sem os belos sonhos de Pierrot
Ou os saborosos beijos de Arlequim
Colombinas desprovidas de amor
se contentam com um deles e fim.

2 de julho de 2012

Um monte de baboseiras sobre identificação

   A internet, como a vida real, tem um caráter global, do todo, que a arte, em geral, não carrega. É vê-los e  dizer "Olha que pena e que mágico, o mundo é diferente de mim" e daí tentar engolí-lo, por mais que seja duro de mastigar e pese no estômago.
   Das outras coisas de se fazer, conversar, música, ler, filmes, passear à toa buscam aquele encontrinho de alma. Aquele enconstar de coração e cabeça em coisas externas a si. Então, a gente ouve uma música que nunca ouviu antes e ela não nos conhece e nem nós a conhecemos, mas ela possui uma melodia, letra e arranjo tão de acordo com a gente (ela é abrasiva quando estamos violentos ou tristes e acalentadoras nos nossos dias mais tristes) que encostamos o peito nela e ela entra na gente e a gente entra nela. É um processo de interpenetração: não se diz quem está engolindo quem, porque os dois se engolem inteiros. Você dá sua humanidade em troca de ser um som também. Rezar também é identificar, quando te coloca parzinho com seu deus e ele fica sua mãe carinhosa, seu pai conselheiro e bravo, seu irmão apoiador e você se põe filho, aprendiz, companheiro e, às vezes, marido e mulher, nos dias mais solitários e sensuais.
   Uma convrsa com antecedentes: uma conversa que se estende por anos ou pela vida do que morrer primeiro (às vezes, até depois, porque rezar é reencontrar também.), que se sustenta sozinha e vai desenvolvendo seus próprios códigos e uma linguagem e dialetos e que se acrescenta a si dia-a-dia, às vezes por um milhão de palavras vomitadas e inéditas ou, às vezes, por um sussurrinho ou um olhar; numa conversa dessas é que se põe mente colada com mente e aí te permite dialogar e criar ua própria dialética com as sinapses do outro, afinando e calibrando pessoa com pessoa e discordando também.
   Sempre deixo o amor pro final (meus textos são uma conversa, me resta saber com quem falo: se comigo, com os outros ou se, não sei, com os tantos minzinhos que deixo morarem neles). O amor também pode ser sublime. E deve penetrar mente com/na/para com mente (mas "onde é que a alma entra nessa história?, afinal o amor é tão carnal"). Com penetrar, compenetrar e copenetrar,  que é quando um corpo aprende a circundar e envolver o outro corpo e lhe serve de capa, de teto e de armadura e (vejam só!) ao mesmo tempo o invade. As mãos, então, aprendem a agradecer com toques calmos, suaves, o animal - pedaço de carne, sangue e pensamentos - que luta pra lhe trazer prazer. O amor é a primeira das relações que vem pra  essa gentinha tão cheia de palavras e sugere que talvez o corpo e essa coisa que chamam de alma sejam a mesma coisa, tendo ao seu favor os argumentos de que a mente que criou a alma pertence a um cérebro, cujo funcionamento pessoal depende de um modo próprio que, se não fosse físico (proponho cá: até mesmo sendo físico) gostamos de chamar de nós.