29 de julho de 2012

Causadores

   Em ambientes frequentados por jovens, tais como escolas, clubes e ruas, não é raro encontrar demonstrações de violência física e moral de uns para com outros. As vítimas são crianças e adolescentes pouco aceitos em seu meio, com características diferentes da maioria e, portanto, inseguros. A especialista Rosalind Wiseman, em entrevista à Veja, falou sobre essa prática conhecida como Bullying e sobre a responsabilidade que têm a escola, os pais e os participantes.
   Mesmo Rosalind, especialista no assunto e combatente do bullying, admite que naturalmente há, no ser humano, o impulso de se sobrepor ao outro, criando uma hierarquia a partir da diminuição do seu, por assim dizer, oponente. A escolha deste é fácil: num ambiente competitivo e hostil, a vítima acaba sendo o jovem mais acatado, menos ofensivo e, por vezes, mais inseguro. Falta aos especialistas notar, também nos agressores, a insegurança necessária para se acreditar que a aceitação de alguém num grupo é proporcional à sua agressividade.
   Fato é que o mundo adolescente é, em geral, carente de segurança; não porque haja algo errado e inesperado acontecendo com a geração presente, mas porque essa idade é caracterizada pelo abandono dos valores dos pais e pela lapidação dos próprios valores. Jogados nessa incerteza, os jovens apelam para o maniqueísmo, determinando 'certos' e negando com veemência tudo aquilo que é 'errado'. Se não feito com violência, esse processo pode ser realmente saudável, embora dificilmente venha a ser calmo.
   As justificativas puramente hormonais e biológicas param por aí: o bullying tem piorado e acarretado consequências mais sérias nos últimos tempos. Como dito por Rosalind, as escolas, principais lugares onde o bullying acontece, não se envolvem até que alguém saia machucado, ignorando o fato de que as piores agressões acontecem em silêncio, sem que ninguém possa ver fisicamente e mantêm-se por bem mais tempo do que uma cicatrização demora. As escolas não admitem seu papel de ambiente social dos jovens e, portanto, de formadores sociais e, enquanto deveriam propor ideias de colaboração e respeito, se abstêm ou pior: incitam a competitividade desenfrada.
   Os pais dessa geração, mais liberais e companheiros de seus filhos, munem-se dos seus próprios preconceitos e intolerâncias e depositam-nos nos filhos que, quando em meio jovem, livres do contrato social adulto e em criação de seus próprios, expressam-nos da forma que encontram. Os pais que deveriam oferecer diálogo e experiência e, em troca, estarem abertos à chegada de novas ideias, repassam a velha noção de que vence quem derrota o outro.
   Não vale a pena apontar culpados: passaríamos da criança que não tem discernimento, do pai intolerante, da escola que se abstem para atingir graus mais altos de uma sociedade, percebendo que a maioria dos conceitos que regem as pessoas hoje em dia baseiam-se na polarização de um vencedor e de um perdedor, ou seja, na competição; em saber quem tem a razão, quem está mais certo, mais errado ou bate mais forte. A violência nunca será extinta, mas nos cabe perceber quando ela é gratuita e letal para os dois lados do embate.
    Quando se trata do bullying e de uma ambiente tão intenso e livre, deve-se exercitar a tolerância de forma que não finjamos que a violência não existe ou é inútil, mas para que notemos que as diferenças inofensivas entre as pessoas não devem ser tratadas dessa forma. É preciso haver diálogo tanto com o causador como com a vítima, para que sejam esclarecidos, conheçam suas razões de agir e, enfim, sintam-se razoavelmente  confortáveis num mundo que vai lhes cobrar tranquilidade e tolerância para um funcionamento pacífico.

PS.: Redação que eu fiz, nesse semestre passado, para a aula de história.

Um comentário:

  1. Belíssimo texto, Mari. Eu acho que a questão do bullying é bem complicada. A adolescência é uma fase difícil, o bullying se torna quase uma questão de sobrevivência, para mostrar força e fraqueza, para confirmar aquelas formações de grupos e estereótipos. É uma coisa meio complicada.

    Na vida adulta, existe bullying também... Mas, acho que as coisas mais fortes são as marcas que o bullying deixa na vida daqueles que o sofrem. Isso que mais me preocupa...

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