28 de dezembro de 2013

A mesma e única

Não existe mais casa alguma.
O mundo inteiro está apresentado:
Oriente, Ocidente
Ocidente, Oriente
Nada me é surpreendente.
Nada me faz dar um passo atrás
pra dentro de braços conhecidos.
E todo o mundo está extasiado
com a possibilidade de se apresentar
multinacional, multicultural,
antropofágico, absoluto
e eu só lamento,
eu que tive tantas,
não ter mais casa alguma.

15 de dezembro de 2013

Em minha cidade

Quero esbarrar com todos vocês nas calçadas de São Paulo
e extrair conversa do menor fio de relação.
Vamos rir de novo das velhas histórias,
sentados na mesa do mesmo bar,
aproveitando os vínculos de vida e linguagem.
Muito, muito próximos e honestos.

E rir cantando
E cantar chorando
E chorar brigando
E brigar brincando
E quando for bom amar, amaremos.

Mas se não for e quando cansados,
ao voltarmos pra casa sozinhos
desafiando as duras paredes da cidade
os pesados trânsitos, as baldeações
as lonjuras, as expectativas e esperas
as desgraças, o tédio, o malcheiro e a dor,
a injustiça e a implacável solidão,
pelo menos veremos nos vagões dos metrôs
rostos bastante familiares.