31 de outubro de 2010

Nirvana

Ter (.)
É meu maior defeito (,) (.)
a incapacidade de não pensar (.)
é minha maior qualidade (.)
de ser profana (,) (.)
a mão, a mãe, a matéria (,) (.)
o agora (.)
inalcançável (.)
nirvana. (!)



PS.: Só por curiosidade... como você leu?

29 de outubro de 2010

Onipresença

-Essa foto... quem tu vês?
-Ele.
-E nessa?
-Não é ele, não?
-Hm... te contei aquela história do moço que uma vez...
-Ele faz isso.
-Porra, e em todas as músicas geniais, e quando a tua cabeça roda e você consegue pensar em vários objetivos distintos, qual é o maior deles?Ele? E quando você quer alguém por perto, quem é? Quem é sempre?
-Ele.
-Escreves pra ele?
-Escrevo. E não só por ele.
-E por quem?
-Escrevo a minha vida toda... e ela costuma ser dividida em partes. Sou meio esquizofrênica, compartimento, separo, vida-de-cá, vida-de-lá... pessoas diferentes. Escrevo-as... separadamente, escrevo minha família, escrevo a música e escrevo política. Escrevo-as todas.
-E ele?
-Está em todas.

28 de outubro de 2010

Oxigênio

Eu pirei foi na tua forma de ser com facilidade tudo o que eu não sou e queria ser. Eu andei pelas mesmas ruas que eu tinha andado antes e as luzes pareciam mais fortes e eu parecia mais embriagada. As moças bonitas de lá vieram me certificar de que você era tudo aquilo que parecia ser. Eu sentei num bar qualquer e a noite passou voando e a minha mente foi parar longe. Uns moços ao lado fumavam uns beques numa tentativa desesperada de se achar em algum plano. Um cumprimento pra eles foi o bastante para amigarem-se e aquilo se encaixou como se nem fosse a única noite. As ruas ficavam mais escuras à medida que as janelas das casas se apagavam egoístas... sobrou a luz da Lua, sozinha. Ela me acompanhou a passos tortos até em casa e eu tirei uma foto do chão. Eu disse palavras que eu nem sabia o significado e fui dormir. Aquela noite, alucinei. Eu acreditei em algumas coisas que não eram verdade e, enquanto o carro zunia pela estrada limpa, eu só podia pensar no quanto eu gostaria de te achar aí, a quilômetros de distância. Eu comi e nem senti o gosto. Eu fui vivendo.
Eu nem sei quem és... eu sei das coisas que te definem e sei que gosto delas. Eu andei e vi casas de diferentes tipos e eu encontrei todas as características que eu queria sugar em ti. Somos elásticos. E vai cabendo mais e mais informação. Eu fui sugando um pouco de cada um e cuspindo um pouco de cada um e eu nem sei se sobra alguma coisa de você. Só sei que teu gosto é bom e meus pulmões não se irritavam com nenhuma dessas coisas que deveriam se irritar, porque eras oxigênio, oxigênio puro! E oxigênio é tão inflamável...

PS.: Alvo.

27 de outubro de 2010

Fora-de-si

Eu gosto de quem eu conheço fora-de-si. Eu gosto de quem grita, mesmo com decibéis mínimos.
Gosto de quem gosta, de quem quer, de quem exclama. São os indignados que me assustam, que me tentam, são quem quero. Me apaixono pelas exceções, pelos condoídos, pelos sozinhos e pelos loucos. Me apaixono como quem põe uma bandeira num estandarte dizendo 'eis aqui um problema!' e, sabe, não estou disposta a resolvê-lo. Estou disposta a deglutí-lo; devorar vorazmente cada parte problemática e fascinante da sua inteligência que eu admiro. Cada esquininha da mente, cada memória... E quando se vai o pensamento de primeiro instante, quando se vai a impressão e fica a tinta, cravada e pintada até borrar no papel-coração, significa que sobraram mistérios e olhares, sobrou admiração. Mesmo que o amado volte a si novamente, já o decifrei e ele vem sempre com novos problemas. Fica dentro-de-mim quem tem um pézinho sempre fora-de-si.

26 de outubro de 2010

Borboletas

Mário resolve brincar com as crianças e diz para a Silvia, com seu tope de fite no cabelo:
-Meninas têm borboletas na cabeça...
Esperta, ela devolve:
-E o senhor, o que é que tem?
-Idéias - ele responde.


PS.: Retirado do livro "Ora bolas!", o que faz com o que o Mário citado seja o Quintana.

21 de outubro de 2010

Abraços

Já escrevi teus sorrisos
Teus mimos, teus olhos
Teus gritos que choro
Teu jeito de ser

O papel está completo
Repleto, decerto
De ti, de tão perto
Do que eu pensei

Então, falarei dos longíquos
Abraços oblíquos
Lindos, oníricos
Que eu ouso te dar

Cantarei nossas tardes
E o alarde que trazes
Esse mar de lilases
Que é poder te tocar

De tal modo que o meu,
ao passo que é seu
já que a vida te deu,
coração venha a bater.

E é nesse ritmo
Tão nosso e tão íntimo
Que o vão fica ínfimo
Entre teu corpo e o meu

Até que se tornem
Teu nome e meu nome
Um terceiro homem
Que chamo de amor

E até que teus braços
Querendo meus laços
Siga em passos
A caminho dos meus

18 de outubro de 2010

Recife

Peguei o avião
que decola tão-com-pressa.
Sinto um frio na barriga.
São Paulo me espera
Tão bela e familiar
rotineira e minha.
Nunca fui aventureira, sabe?
Sempre quis colo-de-vó,
almoço de domingo
e foto de família.
Estranho sentir assim:
tão normal!
Diferentemente da ida,
o coração não bate.
Acho que ficou em Recife.

Rei de mim

É longe de casa. Outro sotaque, outras cores, outras caras. É longe de mim. Não me sinto, não me ouço. Mas as coisas vão acontecendo e se encaixando e, então, eu percebo que é perfeito! É perfeito porque é real. E eu percebo que por aqui dizem o que eu penso e sentem na mesma frequência com a qual meu coração bate. Eu ouço. Sou eu. Meu lugar. Não deveria ser, de fato, já que em meus papeis consta que o primeiro lugar que vi ao abrir os olhos pela primeira vez foi outro. Que exagero! Lá é tão meu... Tenho eu dois lugares? Ou a saudade me faz superreagir?
Só sei que sem aqui é só silêncio e meus ouvidos são raivosos em meio a ele. Só sei que encontrei aqui uma normalidade com a qual se encara as coisas que eu penso - e que normalmente seriam absurdas - que me faz muito bem. Não posso mais ir. Eu sou o que vocês são. Não soltem da minha mão. O mundo obriga, mas seja lá onde for, permanecerei eu, permanecerei assim. Em meio a tantas diferenças, pelo menos eu sei que em algum cantinho disso aqui, àlgum lugar pertence um pedaço de mim que é tão pedaço como qualquer outro. Hei de me acostumar como fui acostumada antes de saber. Um dia eu volto e o mal terá fim. Um dia eu volto. Sim, volto como um rei que volta a seu povo. E é isso que serei: rei. Rei de mim.


Eu não vou mudar, não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só
não vou ceder.
Deus vai dar aval, sim
E o mal vai ter fim
E, no final, assim calado
Eu sei que vou ser coroado
Rei de mim! [Marcelo Camelo]

11 de outubro de 2010

Sério

-As palavras de antes não mais me servem. As pessoas param no tempo e me desinteressam. Quero nunca parar. Cada passo é um suspiro, é um olhar, cada passo diminui a distância entre eu e aquilo que eu nem sei o que é, mas que tenho certeza: quero. São experiências e experiências e eu vou acabar nunca chegando.
-Eu brinco de pensar e nem sequer levo a sério. Eu brinco de viver e não levo a sério. Eu brinco de brincar e brincar. E nem isso é sério. Vem tudo seguido de uma risadinha como a de quem pede aprovação. E a cada passo eu peço. Eu grito. Choro. Finjo. Na falta de fonte, em vez de criar, copio. Em vez de pensar, falo. Em vez de viver, brinco. E nem isso é sério.
-E o que você quer?
-Nem sei.

Infinitamente

-Você vai viver para sempre.
-Se acreditar nisso, você vai sofrer... vai sofrer muito mesmo quando eu me for.
-Não vou. Dentro do meu coração você vai viver pra sempre.
-Uma hora você vai embora, uma hora seu coração vai embora também.
-Aí você vai ficar pairando por aí...
-Infinitamente?
-Não... até achar outro coração pra te guardar.
-E aí eu entro...pela boca?
-Pelos olhos, pra isso as fotos.
-Eu sou tão amável assim? A ponto de cativar quem nem me conhece?
-Muito mais do que isso, creia.
-Vou pairar por aí por pouco tempo... nosso amor fica pra sempre.
-Com quem?
-Em tudo.

"Me responde, por favor.
Pra onde vai o meu amor quando o amor acaba?" [Chico Buarque]

9 de outubro de 2010

Meu reino

Lá é o reino do conforto.
Nada falta
Esforço, quase não precisa
E pro que precisa,
há sempre este exército de corações
pronto pra te defender de tudo.

Lá é o reino da alegria
Amor não falta
A única imagem que se precisa
é o retrato perfeito da própria alma
E pro que não é,
é sorriso, sorriso de apoiar.

Lá é o reino do passado
Fartura não falta
Só precisa sentar-se em volta da távola
A pensar, mas a pensar
E pro que não é pensamento,
é dizer e dizer e dizer.

Lá é o reino da vida.
É meu reino.

6 de outubro de 2010

42

Estou feito criancinha, emburrada por não entender. Cruzei os braços, briguei com o mundo. Eu odeio as coisas que eu não sei! Eu odeio não saber se elas são coisas mesmo. E o tema da indignação hoje começou pequeno. Um bit, um átomo! Odeio bits e átomos! Minhas palavras são bits, oito pra cada letra, nove pra não ter erro. É muita coisa! Ainda mais infantilmente, assumo que é mais do que as calorias que eu poderia ingerir num dia, é mais do que as vezes que eu posso piscar os olhos por dia e mais do que o número de objetos que tem no meu quarto. Só não é mais do que os átomos! Estes são minha desgraça! Penso agora numa bolinha rodeada de pequenos objetos em órbita que é o que posso fazer pra não me desesperar tanto. Mas sabe? Essa bolinha que imagino - do tamanho da minha mão -, é feita, cada parte dela, de milhões de átomos! E lá vem a coceira mental de novo!
"Um corpo tende a ficar em movimento se estiver em movimento e em repouso, se estiver em repouso." Mas, enfim, quem pôs os elétrons na órbita daquele núcleozinho miserável. E digo mesmo! Pra quê estudar tudo isso? Me atormentam! Quero saber mais! E a discussão torna-se grande, vem a maior das questões. E eu não sei respondê-la! Não sei! Imagine uma caixa. Dentro dela uma bolinha e dentro da bolinha, nós. Ok, posso perfeitamente fazê-lo. Mas o que há depois da caixa é muito mais fácil de entender do que saber o que há depois do universo. Sim, a caixa é meu universo. E o que direi ainda da existência? Necessita de um espaço físico, certo? Onde este acaba? E se ele é só uma partícula de outra coisa ainda mais gigantesca, de um outro átomo, dessa vez milhões de vezes maior do que o nosso. E isso me faz pensar nas galáxias existentes dentro de cada elétron... e, ok, esta conversa está ficando estranha! Acho que cobro muito da humanidade, que nem sabe o que é luz e ainda não resolveu seus problemas mais simples e de tamanhos aceitáveis, relativamente. Mas como dizer onde acaba algo que existe e onde começa a existir as coisas inexistentes. Coisas inexistentes NÃO existem!! Não existem, me ouviu? A raíz dos números negativos, simplesmente, NÃO existe! E se não existe, por que citá-la? Por que dizer da sua inexistência? As coisas inexistentes são infinitas. Simplesmente, TODAS as coisas que não existem não existem e, sendo assim, são muito poucas as que existem perto das que poderiam existir e... ok, respire senão você acaba pensando no final do pi, que há de ser uma medida exata!, e aí lá vem mais um texto inteiro e lá vem mais perguntas e cada vez menos respostas. E, para parar por aqui, porque já cheguei em casa e a ponta do lápis vai engrossando e a paciência esvai-se e a curiosidade, firme, permanece... para parar por aqui devo dizer que, se não for possível encontrar respostas, que, pelo menos, parem com as perguntas para que eu durma em paz! Obrigada.

PS.: Tudo bem, não foi bonito, nem legal quanto podia ser, mas eu PRECISAVA esvair minhas indignações quanto ao mundo.

5 de outubro de 2010

Ele

Ele é tão real que seria impossível descrevê-lo e a forma do toque da pele dele na minha é tão toque, é tão forma, que nem precisa da imaginação. Eu também não preciso criar as palavras que ele me dirige ou os olhares que ele me lança porque existem, de fato. E como falar ainda de uma beleza tão diferente, da beleza do agir dele, da beleza do pensar dele... como dizer da influência daqueles olhos nos meus pensamentos de forma correta? Como dizer? E como explicar que ele é meu, tão meu, mesmo que só pra mim e que é ele e só ele que me encaixa? Devo dizer ainda que eu gosto de cada uma das suas qualidades e gosto mais ainda de como elas combinam com os defeitos e de como, estes, são só o exagero das coisas boas. Hei de dizer, por fim, se eu puder me parar, que ninguém nesse mundo inteiro poderia sentir tanta necessidade dele como eu sinto. Ninguém precisaria tanto da presença dele como eu. Não digo. E na ausência de explicação, vivo. Só. E só vivo só. No vazio dado as palavras, fica o silêncio, aquele olhar, aquele sorriso. As palavras têm saudade.
E assim permanecem, porque uma, só uma, me serve: amor.