2 de julho de 2012

Um monte de baboseiras sobre identificação

   A internet, como a vida real, tem um caráter global, do todo, que a arte, em geral, não carrega. É vê-los e  dizer "Olha que pena e que mágico, o mundo é diferente de mim" e daí tentar engolí-lo, por mais que seja duro de mastigar e pese no estômago.
   Das outras coisas de se fazer, conversar, música, ler, filmes, passear à toa buscam aquele encontrinho de alma. Aquele enconstar de coração e cabeça em coisas externas a si. Então, a gente ouve uma música que nunca ouviu antes e ela não nos conhece e nem nós a conhecemos, mas ela possui uma melodia, letra e arranjo tão de acordo com a gente (ela é abrasiva quando estamos violentos ou tristes e acalentadoras nos nossos dias mais tristes) que encostamos o peito nela e ela entra na gente e a gente entra nela. É um processo de interpenetração: não se diz quem está engolindo quem, porque os dois se engolem inteiros. Você dá sua humanidade em troca de ser um som também. Rezar também é identificar, quando te coloca parzinho com seu deus e ele fica sua mãe carinhosa, seu pai conselheiro e bravo, seu irmão apoiador e você se põe filho, aprendiz, companheiro e, às vezes, marido e mulher, nos dias mais solitários e sensuais.
   Uma convrsa com antecedentes: uma conversa que se estende por anos ou pela vida do que morrer primeiro (às vezes, até depois, porque rezar é reencontrar também.), que se sustenta sozinha e vai desenvolvendo seus próprios códigos e uma linguagem e dialetos e que se acrescenta a si dia-a-dia, às vezes por um milhão de palavras vomitadas e inéditas ou, às vezes, por um sussurrinho ou um olhar; numa conversa dessas é que se põe mente colada com mente e aí te permite dialogar e criar ua própria dialética com as sinapses do outro, afinando e calibrando pessoa com pessoa e discordando também.
   Sempre deixo o amor pro final (meus textos são uma conversa, me resta saber com quem falo: se comigo, com os outros ou se, não sei, com os tantos minzinhos que deixo morarem neles). O amor também pode ser sublime. E deve penetrar mente com/na/para com mente (mas "onde é que a alma entra nessa história?, afinal o amor é tão carnal"). Com penetrar, compenetrar e copenetrar,  que é quando um corpo aprende a circundar e envolver o outro corpo e lhe serve de capa, de teto e de armadura e (vejam só!) ao mesmo tempo o invade. As mãos, então, aprendem a agradecer com toques calmos, suaves, o animal - pedaço de carne, sangue e pensamentos - que luta pra lhe trazer prazer. O amor é a primeira das relações que vem pra  essa gentinha tão cheia de palavras e sugere que talvez o corpo e essa coisa que chamam de alma sejam a mesma coisa, tendo ao seu favor os argumentos de que a mente que criou a alma pertence a um cérebro, cujo funcionamento pessoal depende de um modo próprio que, se não fosse físico (proponho cá: até mesmo sendo físico) gostamos de chamar de nós.

2 comentários:

  1. Mas essa menina tá inspirada. Quantos textos novos! Adoro isso! :)

    Em relação a esse aí: por mais que os encontros virtuais tenham, muitas vezes, o prazer de um encontro real e sejam mais mágicos do que um encontro real, acho que nada se compara ao contato ao vivo, ao contato físico. Isso é necessário, até mesmo pra gente perceber que a pessoa do outro lado da tela é de carne e osso! :)

    ResponderExcluir