19 de agosto de 2012

Personagem

Pelo menos Clarice tinha uma esquina, uma menina, uma nordestina a quem só faltava dar-lhe a sina.

Eu nem sei quem é que procuro, porque não tem rosto nem vida. Hei de criá-lo, não como filho, sem carinho, sem censura. Devo matá-lo, devo odiá-lo? Preciso que se adeque à história, que seja favorável aos meus argumentos, talvez por ser antônimo ou sendo meu herói, mas se o for que não seja eu! Que passe longe de mim! Não sei o que fazer, mas sei que agora ele ri de mim, deitado no meu ombro direito, rindo, rindo muito... é homem, é um menino. Talvez nem seja lá muito bem-humorado, mas como é engraçado que eu o procure e ele esteja bem aqui. Tento fazê-lo longe de ser heroi, mas já se lhe alouram os cabelos. Tento que seja experiente, mas é um menino e já o vejo levantar uma bandeira em frente a uma multidão, quando o queria fraco. Que adianta querer? Personagens fazem o que querem com seus autores.

Um comentário:

  1. absurdamente colossal. Você tem jeito de escritora mesmo. É tão singelo esse texto e tão bem escrito que quase serve de inspiração para qualquer outra pessoa escrever, pois ele faz parecer ser simples a arte de escrever.
    Parabens, excelente texto.

    ResponderExcluir