16 de dezembro de 2009

Ela, ele e eu(?)

Moro num apartamento. Quatro casas por andar, muitas vidas por andar.
A casa do lado tem uma jovem que toca piano. Ouço pelo banheiro. Às vezes vou até lá apenas para ouvir as melodias, que variam de Jazz até Erudita, e que, tão lindamente, ela dedilha com propriedade.
Já à minha frente mora uma mulher de meia-idade que quase não pára em casa. Sai de manhã, no mesmo horário que eu e volta só à noite, enquanto ponho o lixo pra fora.
Mas o que me chama a atenção é o casal de cima. Brigam todos os dias. O homem chega ao final da tarde em casa, ela reclama. Ela diz que ele é ausente e acusa-o de ter um caso com a secretária do escritório (ele é advogado).
Ele, por sua vez, insinua que ela tenha um caso com o Lázaro. Não sei quem é, mas ela diz que são grandes amigos e que ele está sendo idiota. Ele, então, a acusa injustamente de sair durante seu trabalho. Injustamente, sim! Ela não sai de casa, exceto pra ir ao mercado ou feira. Seria o tal Lázaro de lá? Ela parece usar meu argumento e responder à minha pergunta. Lázaro, o irmão dele, havia "roubado" a primeira esposa.
O auto-considerado traído sentou-se no pufe(ou no sofá, não sei) e estabeleceu-se o silêncio. Podia chorar, se lamentar ou apenas segurar sua raiva para não ser rude com a esposa. Qual fosse devia amá-la. Me comovi com a mágoa do homem. Pensei que ele deveria ser perdoado pela superreação.
Ouvi-o se levantar e, então, entregar-se às lágrimas. Tive certeza, agora, de que deveria perdoá-lo. Mas ele confessou a traição. Desmoronei, ela também. Esperei, e torci, para que ele se explicasse, dizendo quem foi, porquê ou quando, mas, dessa vez, ela não concordou comigo. Expulsou-o de lá, jogando uma mala (ou poderia ser uma caixa) no chão. Ela foi para a cozinha(que ouço pior que a sala) e chorou até que ele saísse.
Corri para a minha janela da sala. Ela também correu. Comovidas, choramos, juntas. Ele esperou na porta do condomínio até o primeiro táxi passar e foi embora para um hotel, talvez.
Deu-se algumas semanas e a moça se mudou, provavelmente prum apartamento menor. Não sei. Não sei se se viram depois do acontecido, não sei se se separaram ou recomeçaram tudo. Não sei se voltaram a ser amigos. Mas que me importa, né? Não sou dessas de ficar vendo vida dos outros...

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