16 de dezembro de 2009

Longe das cercas embandeiradas que separam quintais

Lá estava. Esquecera o antes e não pensava no depois. Não pensava em nada, ao menos, nada de possível compreensão.
Alguns meses atrás pensava como os outros. Enfurnado no pensamento comum, preso à uniformidade. Não sabia se gostava daquilo exatamente, mas se libertou daquela mentalidade, ou talvez tenha se fechado mais ainda. Mas, agora, não era revolucionário e nem diferente. Era ininteligível. Seu modo de ver as coisas era absurdo, anormal, não-padronizado e fascinante.
Dir-se-ia que era louco, se é que essa palvra, tão padronizada, poderia definí-lo. Ele estava, sim, além de qualquer palavra, definição ou esteriótipo.
Os normais... eles são tão normais, comuns, enquanto os loucos - ah, os loucos! - são todos diferentes e geniais. Cada um com sua genialidade única.
Agora, ele, o louco, o indefinível, encontrava-se parado, olhando para o nada, em nenhuma esperança de que nada pudesse acontecer. Parado, pensando, de sua forma extremamente peculiar, em tudo. E, assim como o daltônico vê o rosa semelhante ao cinza, o tudo e o nada se confundiam loucamente em sua mente febril. Murmurava algumas coisas cujo sentido só aquela lógica poderia ousar explicar.
As palavras reverberavam-se, rebatidas pelas paredes. Se houvesse um corpo, alguém sequernaquele lugar o som não voltaria para os ouvidos dele. As palavras eram ditas tão baixas que o corpo certamente as absoriviria. E a falta de nexo era tamanha que, fosse a mente desse alguém minimamente sensata, elas, as palavras, seriam completamente exploradas na vã tentativa de entendimento.
E como tudo lhe vinha à mente, desmaiou. Desmaiou como se nada lhe viesse à mente. Desmaiou como se seus pensamentos fossem tantos e tão geniais que não caberiam numa mente humana, limitada ou, também, como se fossem tão poucos e tolos que merecessem permanecer ali, em tal liberdade mental.
Só se sabe que, em meio a tamanha febre, desmaiou e não acordou mais.

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