19 de maio de 2011

Vergueiro

Estabeleceu-se tempo de escassez criativa de mim, devida ao meu atual período de absorção: tenho lido, ouvido muitas coisas, conversado muito e visto muitas coisas novas, bonitas, feias, inclassificáveis, mas, acima de tudo, reais. Enquanto a fase não passa e as coisas não voltam àquele mesmo jeito de sempre, fico aqui aquecendo e vendo crescer os pensamentos e estimulando-os muito. Com a finalidade de não deixar o blog a criar teias de aranha e a ser ausente nos vossos históricos e com a finalidade de me distrair um pouco venho contar-vos uma história pela qual esse blog e essa pessoa já passaram.
A partir do meio do ano passado até o final dele, eu estudei na rua vergueiro, longe da minha casa, mas bem próximo do lugar que viria a ser meu. O que acontece é que na mesma rua situa-se o Centro Cultural de São Paulo, aonde eu ia quando, no intervalo ao meio-dia entre uma escola e outra, havia um momento só pra mim. Por vezes, eu almoçava rápido só para correr pra lá. Acontece que me acostumei com sentar naquele banco e ver as pessoas pra lá e pra cá, passar os olhos pela programação de shows, ver as aulas de dança que aconteciam no auditório, comer os muffins deliciosos do restaurante e escrever. Sim, muitos dos textos aqui postados foram feitos sob aquele sol, observando aquelas pessoas e, mais, me deleitando com aquele silêncio que não pesa. A biblioteca do centro cultural também é muito legal. Fica no subsolo e tem uma gibiteca gigantesca que, na verdade, nunca me chamou tanto a atenção quanto as mesinhas nas quais eu me sentava pra fazer todos os tipos de lições, trabalhos, textos e descobertas. E o mais legal daquele lugar era que ele era todo meu, eu ficava sozinha lá, às vezes parada, quietinha, em silêncio e o tempo também parava, mas às vezes preocupada, sob chuva, sob sol e enrolada em casacos pesados. O lugar era meu.
Tinha mais uma: sempre gostei da tarde para descansar. Para mim, manhãs são agitadas e vivas, noites são pensativas e úteis, mas as tardes são feitas para o descanso e a restauração.
De qualquer forma, a combinação dos fatores me fez gostar do lugar e voltar lá toda vez. A inspiração que fluia devia ser resultado da liberdade mental que eu me concedia naqueles momentos tão brandos. Decidi agradecer o Centro e escrevi tantos poemas quanto foi possível, mas não queria guardá-los pra mim e escrevi-os nas paredes. Literalmente. Começava por um título, discorria sobre o assunto que fosse - e foram diversos - e terminava com o link deste mesmo blog que vós ledes. A quantidade de poemas escritos foi a mesma de poemas apagados, mas eu nem me importava: retornava e vinha com novos versos. Hoje acho tudo meio estranho e feio, mas o impulso era sempre mais forte e eu não podia segurar a mão que avançava com sua espada colorida em direção às portas dos banheiros, paredes, espelhos e cantos da biblioteca.
Eis que um de meus pensamentos trouxe-me o mais lindo dos resultados. Num texto qualquer aqui postado, recebo o seguinte comentário: "te encontrei no banheiro do centro cultural vergueiro" Só. Sem pontuação. Sem resposta quando pedi por uma. Somente essa mensagem de alguém que leu e teve a ação de não simplesmente clicar num link, mas se interessar, copiá-lo e vir procurar por ele. E esse gesto bobo, que aqui aumentei um milhão de vezes, me fez e me faz continuar escrevendo.

4 comentários:

  1. Que linda história, Mari! São comentários como esse mesmo que fazem a gente ir em frente! :) E vá em frente MESMO!

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  2. Faço das palavras da Kamila, as minhas!
    Siga sempre em frente!
    :)

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  3. O cúmulo da doçura; me encanta!

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