8 de junho de 2011

Sobre a velha sala clichê para sentimentos inéditos

Vê?
Eu já até escrevo como em velhas baladas norte-americanas.
Os versos vão assim se amontoando sem ordem à qual se dê sentido.
E ao meio uns cigarros em cinzas. Os pés calçados de couro.
Pelo ar vem voando um jazz, empurrando a matéria, que sempre volta, como se insistisse em mudar de propósito. E não muda.
É o mesmo cenário e, nele, cadeiras de velha madeira, paredes de amarelo, o cigarro, eu estou lá, mas ausente. É, de fato, se me procurar, jogando os olhos a todos os lados, não estarei. Nem no espaço, nem no tempo.
Mas existo o infinito.
Enfim, é tudo somente mentira: o clichê de um filme antigo, que nem mesmo cores costumava ter. Ah, as paredes amarelas da nicotina e do tempo não mais, mas ainda o cigarro cinza.
Sou, se os autores nem mesmo me cogitaram?
Sou, se eu nunca vivi tão falsa e vulgarizada cena, mas se ainda comigo carrego
a solidão, o violão, a madeira, a cadeira, as velas, as amarelas, o jazz, os pés
que constituem esse sentimento que tem nome tanto quanto a desocupação repentina e a saudade do que não mais se gosta, e que tenho a liberdade, dada e recebida por mim, para sentir?

7 comentários:

  1. Acho incrível como você consegue se colocar assim, em experiências que me parecem ser tão distantes daquilo que você efetivamente viveria. Parabéns, Mari! Adorei esse!

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  2. Fico aqui nos intervalos das aulas, saboreando seus textos. Penso que você é uma "Lispector". Talvez uma reencarnação ou coração gêmeo de emoção.
    Fico emocionada por aqui!!!
    Se pensas que não te vejo
    Esqueces que nem preciso vê-la,
    Pois o meu amor é eterno!
    E quanto orgulho tenho
    De ter filhos de bem!

    Beijos
    Eu te amo!

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  3. Que lindo, mãe!
    Volte sempre!

    E, Ka, talvez nem sejam tão distantes, olhando bem, não é?

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  4. Sim,olhando bem, talvez não sejam tão distantes assim! :)

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  5. 'Sentimentos inéditos', e com muita intensidade.
    Aquela poesia do fundo do meu blog, é de Renato Russo, é um manuscrito dele. :D Beijos!

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