1 de junho de 2012

A sério

    Eu queria mesmo era ser pessoa a quem se dá poucos créditos. Que quando eu falasse em palavras, as pessoas colocassem em dúvida a verdade, a minha sanidade e a minha capacidade de transformar fatos em verbos. Fui criada - ou nasci, quem sabe de onde vêm essas coisas? - de tal forma a só pronunciar o que não me pertencesse, as teorias consolidadas e as certezas irrevogáveis, enquanto todo discurso subjetivo deveria conter um "eu acho que" ou pior e mais doloroso "talvez" de dispensar responsabilidades. Ah, mas que delícia seria ouvir sussurrados os pensamentos dos outros (não dos outros mesmo, não se enganem, mas dos outros cá de dentro e do que são enquanto coisinhas personagenzinhos da minha cabeça e de tal forma) ouvir esses sussurros dizendo Coitadinha, ficou louca, ou tendo muita mas muita raiva (tem que ser raiva de não segurar o punho que vai em direção ao quebrável e evidente nariz que tenho) e de, nessa raiva, dizer mil coisas que eles nem sequer pensam. 
    E, ainda (que delícia é escrever quando se escreve utopias), mas ainda eu ver-me perdendo o controle, a cabeça e esquecendo meu nome e, ao procurar no bolso o documento, estar nua e perdida e mais humana do que jamais. Ou então em aflição (não me permiti o que hei de cogitar antes por pudor, mas mais pela modéstia em dizer que mereço tanto e talvez um pouquinho pela vaidade de escritor que não quer escrever coisas repetitivas:), em aflição e sem dor, exceto aquelas intríssecas ao ato, amar. Amar muito mesmo. Um amor que nem acredito que haja e tudo bem porque, cá, quero ser desacreditada e, como já disse, quero que, de reação a esse texto e a outros e quando quiserem (lembrar de parar de obrigar os outros ao meu tempo), desprezem-me, dizendo que Muito bem, eu tentei, mas só há aí mentiras. 
    Dispenso cá a verdade em prol de que, pelo amor de deus só hoje, eu tenha paz.
    Amém.

3 comentários:

  1. "de tal forma a só pronunciar o que não me pertencesse, as teorias consolidadas e as certezas irrevogáveis"

    "Odeio citações. Diga-me o que sabes" - citação conhecida de não me lembro quem.

    Muito bom o texto, Mari. Parabens.

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  2. Amém!

    Me vi nesse texto, Mari! :)

    Beijos!

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