24 de agosto de 2010

2+2=5

"Dois e dois são cinco, passarinho."
Mas o passarinho continuava a repetir que eram quatro. E imagine que todas as pessoas no mundo repetiam "dois e dois são cinco." "é, são cinco, passarinho" e a insistência tornava-se tormento. Ele sabia que eram quatro. "Conte, conte bem, dois e dois são quatro!" Ele provava com os dedos e mil contas e relutava, mas ninguém abandonava a ideia de que isso dava, realmente, cinco. E maltratavam o pobre bichinho alado fisica e moralmente. "Que ideia insana! Se eles dizem que é cinco, então o é."
O passarinho, coitado, queria voar pra longe, pra um lugar onde ele pudesse dizer que a conta dava quinhentos e quarenta e quatro, se quisesse. Queria voar pra um lugar onde cada um defendesse a sua própria ideia, não a de um ente maior, e argumentasse a favor dela com o que pudesse. E, imagine que maravilha!, nesse lugar a razão era de quem conseguisse provar qual o verdadeiro resultado. A razão! As pessoas, e os passarinhos sonhadores, tinham razão nesse lugar! Razão de verdade! Às vezes se estava certo e às vezes errado, mas cada qual com sua ideia.
"Pense nesse lugar, passarinho... pense porque ele não existe mais. Nunca existiu."
O passarinho se debatia. Era mentira! Era mentira? "Nunca houve lugar algum, nunca houve mulher ou felicidade alguma. Nunca houve nada disso!" Não houve? "Você ama esse lugar, passarinho? Você não ama! Repita! Você não ama! Você ME ama! Você não arriscaria sua vida por esse lugar, não é passarinho?" Eles o fizeram acreditar.
"E dois mais dois quanto é, pássaro? Quanto é?"
"Cinco, se você diz assim."

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