3 de agosto de 2010

Ritual

Acho que ela me ama. E confesso que me divirto à beça com isso. Provoco, ignoro, fico tocando-a e acho que ela - no fim - sempre acaba me amando de um jeito ou de outro. É... acho que ela me ama mesmo. Eu acho e ela sabe que me ama. É por isso que provoco, ignoro e a toco: porque seja lá o que eu fizer, ela sempre vem e me ama mais e mais.
E ela é tão linda quando me olha com os olhinhos brilhantes e imagina cenas protagonizadas por mim em sua cabecinha apaixonada. Tão linda! Me divirto com esses olhares. Dou-lhe ainda mais profundos, mais desafiadores e os seus permanecem lá, sempre brilhantes e cada vez mais interessados. Me divirto. Ela sorri e sabe que eu a maltrato assim. Cada vez que lhe lanço um questionamento, com a face confiante, seu corpinho clama mais pelo meu. Por dentro, rio mais. Deixo as provocações de lado e parto pra outra técnica.
Ela vem falar comigo, não dou atenção. Começa a sofrer, a menina. Apela com decotes e carinhos, à maneira dela. Ah, e como me divirto, enquanto ela tenta a todo custo arrancar meus olhos para si! Fica quase pornográfica, lá toda estirada, com suas poses. E quando desiste da apelação sexual, vem amigar-se, vem conversar. Eu sempre rindo. E ela sabe.
Chega então a parte final do nosso ritual. Aproveito suas carícias para tocá-la, sorrir-lhe, elogiá-la e, dessa vez, é ela quem se enche de confiança e eu viro mero espectador no show que a mente dela proporciona. Gosto de tocá-la na cintura, nos cabelos, nas mãos... e gosto de como ela amolece toda e se entrega ao meu mínimo toque. É a fase mais romântica: ela bem, eu bem também. Não rio, sorrio. E ela sabe. É a fase também em que ela fica mais bela: sem tristeza, sem pornografia. Fica bela. Só bela. Só ela. Mas essa é também a minha fase de sofrer: nos seguramos, resistimos à tentação e logo esfriamos.
Volta o processo pro começo. Tudo igual. Volto a provocá-la. Não ousamos consumar, não ousamos revelar, não ousamos nem sequer verbalizar... isso. Porque é bom.
É bom e pra nós dois funcionou até agora. Acho que existe uma certa magia nesse nosso ritual, que vai e volta e nunca tem um fim exato. Eu acho - e ela sabe - que ela me ama. É... eu sei - ela sabe melhor ainda - que eu a amo também.

Um comentário:

  1. Muito bom, Mari! Ritual: já tá no nome, é incessante, sem fim, sem ser cansativo e, às vezes, tem gente que gosta dele.

    Beijo!

    ResponderExcluir