14 de janeiro de 2011

Levo

Eu dizia a ela sempre que me desse objetivo, porque viver sem cortar uma folha selvagem sequer dessa gigantesca trilha, viver sem pular nem sequer um muro é como ser obsoleto. Eu dizia, em contraponto, que não há tantos muros assim e que o empecilho deve ser estatisticamente gigantesco para que eu possa sequer alcançar tal nível que eu estimava. Eu brigava com ela pela sua falta de sentido e eu vivia cada dia com um alucinógeno diferente, caindo por semanas em realidades radicalmente diferentes e - no entanto - que me tinham como ponto comum. Eu temi que todas as minhas combinações verbais já tivessem sido escritas, já tivessem sido faladas e pensadas. Eu julguei o dadaísmo pelo simples motivo do acaso tornar isso mais real. Ela me respondeu como enigma que o tédio é como um brejo que afunda, que a burrice é latifúndio e que os valores nos impedem de nós mesmos. Enlaçando as entrelinhas dessas charadas da vida eu descobri que escrevo pra mim, escrevo pro meu mundo, escrevo pra entender, pra exercitar, pra mexer. Não há mais a pretensão de mudança externa e se as palavras não forem minhas que se tornem minhas me servindo.

4 comentários:

  1. Poxa, que final bonito! :) E, Mari, de uma certa forma você escreve pra gente também! Estamos aqui, dialogando contigo.

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  2. "os valores nos impedem de nós mesmos"
    concordo... mas sem eles tbm acho que ficaria dificil distinguir o que seriamos nós mesmos...
    nos limitam e nos definem... eu acho. enfim... :/

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  3. Acho que tornarei tuas palavras minhas, pois me serviram... Ok? rs

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  4. Como sempre faço com as suas, Abel. :)

    Kamila, obrigada!

    Nilo, sim... nos moldam e nos prendem.

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