2 de março de 2011

Salão de Dança

Devo admitir que condeno alguns tipos de música por serem simplesmente 'dançantes' e que condeno ainda mais algumas danças, principalmente quando são coreografadas e quando deve-se andar estritamente não-sei-quantos passos pra cá e pra lá. Vejo porém uma beleza forte e inteligente em duas pessoas que bailam deixando-se levar pela música e pelo outro. Sinto uma cumplicidade que parece amarrar os dois corpos que podem soltar-se e avoar-se e ainda assim voltam a seu par como fosse casa. Constato tudo isso vendo um grupo de pessoas de todas as idades em algum tipo esquisito de aula livre de dança. Esquisito porque acho que este tipo de coisa não se aprende. De qualquer forma vejo daqui de cima velhinhas que perderam sua confiança e só cambaleiam bobas seguindo o professor. Crianças que correm passos ritmados - as mais entregues!
A negra gordinha é chamada pra dançar com o professor. Ele, entre gracejos, elogia seu borogodó. O resto da turma ri lisonjeada como se ele elogiasse, assim, o borogodó de cada um deles. A gordinha se empolga. Devo adicionar que ela dança bem. Bem como quase ninguém ali naquele lugar, nem mesmo o professor que, sabido de todos os passos do mundo, ainda não conhece seu próprio borogodó. As duas criaturas porém que mais me fazem saltar os olhos não estão no centro das atenções ou têm seu borogodó elogiado. Ambas estão em seus próprios mundos e entenderam, enfim, o que é dançar.
A primeira: um casal que parece estar ali somente pra aproveitar da música que estoura nas caixas de som. Dança com propriedade tanto os passos - que não odeio mais com tanto vigor - como a alma. Ele a leva e o corpo dela vai, mas não sem relutância: de vez em quando se nega a ir pra algum lugar e recebe de volta um sorriso e a concordância dele. Ela reluta muito. De certo, não o quer. Mas por que ainda dança? O engraçado é que, apesar das fortes negações dela, a dança flui naturalmente, sem empaques e de forma sensual e lotada de cumplicidade.
A segunda é uma moça que deve ter seus quinze anos e que perceptivelmente tem síndrome de down. Esta dança olhando pros seus próprios pés - isso quando não fecha os olhos, e balançando os braços da maneira que se sente confortável. O mais incrível é que no salão pouco se encontra gente que siga agindo sem errar nem mesmo um compasso. Ela não erra. Arruma o cabelo em dois tempos e esbarra num casal em um que não sobra pois logo ela preenche mais um se recompondo do tranco. E assim vai a menina. Perfeitamente compassada. E se a música parasse a menina continuaria assim a viver. Continuaria preenchendo a vida com mínimas, semínimas, colcheias e até mesmo pausas de ações.

2 comentários:

  1. e o carnaval começou, até mesmo aqui em seu blog.. rsrs
    já do lado de cá um carnaval repleto de cisnes negros e brancos nos bailes a fantasia, mas nenhum deles com o charme de natalie portman...nada é perfeito , quem sabe domingo em recife dou mais sorte.. rsrs

    bom carnaval

    :p

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  2. Belo texto. A dança, Mari, diz muito sobre duas pessoas. Sobre o tipo de relação que elas possuem, como elas se veem, se elas se sentem à vontade um com outro.

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