4 de agosto de 2011

Pagamento pela justiça nata

Cego da dor da morte,
brande a arma o irmão mais próximo.
Não porque lhe traria à vida
ou porque assim quisesse.

Vingava o sangue que, em si, já era vingança
e, indiretamente, vingava um remoto antepassado,
sabendo que a bala que saísse de seu cano
logo perfuraria seu corpo também.

Vagando pela neve branca e luminosa,
viu-o recortado contra o céu albanês
Não foi necessária muita empatia para saber
que o homem era seu inimigo, seu irmão e ele mesmo.

Sem pensar duas vezes, carregou sua espingarda
E, decidido a derramar sangue de um assassino, atirou.
Suas mãos moles derrubaram a arma quente.
E a neve, agora vermelho-aguado, o recebeu.

O inimigo aproximou-se com o barulho
Grato, admirou o sorriso no rosto morto
E, por causa de uma dessas ironias que ocorrem em poemas,
a arma, rebatendo numa pedra, apoiou-se em sua cabeça.

PS.: Abril Despedaçado, mais uma vez.

6 comentários:

  1. Esse teu poema tá melhor que o filme (não li o livro que originou o longa), que acho um SACOO! rsrsrs

    No filme, só consigo gostar da atuação do Rodrigo Santoro.

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  2. Ka, leia o livro! Tu vai entender o que o filme TENTA mostrar dessa coisa de saber quando tu vai morrer e tal.

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  3. O filme é mais legal que o livro. Sério. Eu lendo esse poema ia perguntar se vc tinha gostado do livro e vi que até o prefere ao filme.

    O filme tem um tom de libertação muito grande, a cena final mostra isso. E o "saber da morte" está na simbologia do Walter Salles ao usar o círculo como símbolo do filme, aquilo que vai, volta. Eu acho o filme genial por demais.

    Ah é, o seu texto é legal, agora até me bateu uma vontade monstruosa de rever "Abril Despedaçado"

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  4. É verdade, mas o livro aterroriza mais e nos persegue bem mais com a questão do abril-morto, de que você sabe quando vai morrer e não tem nada a fazer sobre isso.

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    1. E falando do poema: o suicídio foi meu modo de quebrar a tradição.

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