4 de abril de 2012

As frestas

Estão pra sempre
e são e sendo
estão sendo. E tendo
em si a eternidade
seja lá em ideia e pensamento
seja em átomo, molécula ou elemento.
As noções perduram os oitenta anos,
se aprimoraram e se afinam,
não mais do que oitenta anos.
Porque os homens,
carregados de sua razão,
trazendo suas cordas vocais
e seu belo vocabulário milenar,
não sabem falar.
Não falam.
Não falam mais do que as palavras podem.

E aí o tempo malandro,
inimigo eterno do empirismo,
dita que tudo leva tempo
(ele adora se meter no meio
entre um compasso e outro
entre um amante e outro
entre os limites do corpo).
O começo é invisível.
O mundo começou,
a onda começou,
o vento começou,
o homem começou,
você começou bilhões de anos atrás.
de você.

Há os crentes esperançosos,
que confiam na palavra, sim,
mas vêm verdade nas coisas não-ditas,
não-pensadas, no acaso
e nos instintos dum corpo com vontades,
acreditam no que não entra em contratos,
no não-oficial tremelicar de pestanas,
na mão que acarinha sem saber por quê,
no soco-reflexo que salvou a vida,
(mas ninguém parece ver
essa sobrevida da vida forte),
como os crentes,
como eu.

2 comentários:

  1. Que jogo de palavras absurdo de fantástico:
    "dita que tudo leva tempo
    (ele adora se meter no meio
    entre um compasso e outro
    entre um amante e outro
    entre os limites do corpo)."

    muito bom mesmo. É um poema assaz inteligente e bem estruturado. Parabéns.

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    Respostas
    1. Que bom que gostou!

      Gosto de "O começo é invisível.". Acho uma verdade.

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