21 de abril de 2010

A caixa

Uma caixa de papelão deixada no último canto do sótão à mercê dos estragos que o tempo (e a umidade do lugar) pode fazer. Deixada ao léu, entregue às mãos do esquecimento.
Entre mudanças de casa e vida, a caixa permanece e seus objetos tornam-se mais puidos a cada vez que ela se torna sem sentido.
Já não se sabe mais pra quê guardá-la e seu interior, a esse momento, já é irreconhecível. Não se vê mais nela aquilo que existiu. Nesse ínterim, entre o tempo que fora presente e o tempo em que é nada, a caixa andou com aqueles que foram-na construindo, pouco a pouco guardando suas mais belas recordações.
A caixa, já sem objetivo, sem aparência, sem conteúdo, vive só para aqueles que vêm nela algum significado. A caixa depende da mente, depende da lembrança.
Mas as pessoas envelhecem. E a caixa fica lá. E quando as pessoas se vão, a caixa volta a ser só uma caixa, com objetos velhos e sem-valor.
Deve ser esse o encanto da caixa.

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