4 de abril de 2010

Literatura

[...]
-És literata.
-Não sou literata...
-Escreves, certo? És, portanto, literata.
-Não é bem assim que funciona... Drummond é literato, Kafka, Orwell, eles são literatos.
-E és o quê se escreves?
-Sou gente, ué.
-És literata.
-Não sou! Literata tem que ser formada.
-Drummond não era formado.
-Drummond é Drummond!
-E tu és tu! E tu és literata.
-Pegue o dicionário. Procure aí: literato.
-L... i... aqui! "Literato: 1. Escritor." Escreves, não?
-Escrevo.
-És literata.
-Sendo assim, aquele cara pichando o muro é literato... e o garçom anotando os pedidos é literato. Isso parece literatura pra você?
-Não vejo por que não.
-Qual a poesia que vês em "um guaraná meza 6" com 'mesa' escrito errado ainda por cima?
-Literatura não é poesia.
-Literatura é o quê, então?
-Tu és a literata aqui, deverias saber.
-Não sou literata. Aquelas filosofias de bar, meros pensamentos, não é literatura aquilo.
-É o quê?
-Sei lá... pensamentos? Poesias?
-Uh, és poeta ainda por cima?
-Não sou!
-És poeta.
-Não sou poeta.
-Fazes poesia, certo? És, portanto, poeta.

[...]

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